20 de maio de 2011

Opinião/Tendências: Uma revolução cultural para Portugal

Dando seguimento ao último post que lançámos neste blog, considero fundamental que a população portuguesa ganhe consciência colectiva das dificuldades com que se irá confrontar no futuro, e preparar-se o melhor possível para uma transição que, em função do grau de adaptação da população, será mais ou menos dolorosa.

Enumero abaixo as grandes transições que poderão vir a ocorrer num futuro próximo , sendo que algumas já estarão em marcha:
  • Alteração nos hábitos de trabalho, tendo em conta a necessidade de transferir populações para regiões menos habitadas e mais férteis, onde terão que trabalhar de acordo com as vicissitudes locais; 
  • Alteração nos hábitos alimentares, já que a variedade de produtos será restringida, prevalecendo os de produção local; 
  • Restrições no acesso a bens e utilidades, na medida em que Portugal perdeu grande parte da sua força produtiva nas últimas décadas, sujeitando-se aos critérios precários da economia global e ao encarecimento do transporte de bens;
  • Restrições na mobilidade a nível internacional, devido à subida do preço e escassez dos combustíveis nos mercados mundiais;
  • Restrições no acesso a dinheiro e a capital, já que os portugueses terão que primeiro liquidar as dívidas contraídas no passado, não só nos sectores privado e familiar, como também no sector público. Veremos se haverá credores e capital no futuro para emprestar, mesmo que os portugueses se tornem um povo bastante responsável na gestão dos seus dinheiros;
  • Restrições no acesso a energia eléctrica, pelo custo em manter a infra-estrutura existente, e o que virá a custar no futuro. Não seremos auto-suficientes em termos energéticos, mesmo com recurso massivo às energias renováveis, e portanto ficaremos dependentes de recursos fósseis e dos seus países de origem;
  • Fortalecimento das comunidades locais: mais auto-suficientes e menos dependentes do exterior, com recurso a mais trocas directas de bens em detrimento da moeda como meio de pagamento;
  • Alteração na tipologia de profissões: haverá mais trabalho no pequeno comércio, na agricultura e na pequena indústria de apoio à agricultura. Serão extintas muitas profissões que surgiram nos últimos 50 anos baseadas em serviços que não produzem directa ou indirectamente trabalho útil;
  • Restrições na prestação de cuidados de saúde por falta de capital financeiro, obrigando a hábitos alimentares e de vida mais regrados;
  • Aumento da insegurança nos meios urbanos, por motivo de escassez de dinheiro e de meios de subsistência pela população em geral.
Considero que estas serão as grandes tendências que irão ocorrer no futuro e que a todos nos afectarão, a uns mais do que outros. 
Quanto mais cedo as pessoas se mentalizarem e se prepararem para estas novas realidades, mais fácil será a transição, e com maiores probabilidades de abrangência a uma parte significativa da população.

Tiago Mestre

13 de maio de 2011

SOLUÇÕES: A transição da aldeia global para as aldeias glocais


Pelas evidências expostas nos textos que temos vindo a publicar nos últimos 4 meses, é importante ter a capacidade e a liberdade de consciência para fazermos a pergunta a nós próprios:
E agora? Que soluções teremos? Como será o nosso futuro nos próximos 20 anos?

Já não restam muitas dúvidas que este modelo de exploração intensiva mundial dos recursos energéticos, materiais e financeiros está em declínio, e com o que isso implica, a globalização também está ameaçada, ou seja, a troca de bens, serviços e pessoas pelo planeta será fortemente restringida.

A globalização acabou por transformar os países ao longo destas últimas 5 décadas, uns mais do que outros, ou em produtores de bens à escala mundial (com balança comercial positiva – exportam mais do que importam), ou em consumidores (balança comercial negativa).

No plano financeiro a mesma situação, uns países tornaram-se credores, e outros endividaram-se, pedindo emprestado a esses mesmos credores.

Portugal, sob esta perspectiva, ficou na posição mais frágil e dependente: importa muito mais do que exporta e para obter essas mesmas importações (algumas delas são alimentos e bens de primeira necessidade), endivida-se no exterior por incapacidade de gerar capital internamente. Esta espiral de endividamento e dependência externa será, mais cedo ou mais tarde, forçosamente rompida.

É no meio destas movimentações à escala mundial que deveremos questionar: Como será a vida dos portugueses e de Portugal?

Segundo a nossa perspectiva, seremos forçosamente obrigados a obter meios de subsistência locais ou regionais, que até agora têm sido assegurados pela globalização da economia, nomeadamente a alimentação, o vestuário, materiais de construção, energia eléctrica, térmica e a movimentação de bens e pessoas.

Todos estes avanços tecnológicos que permitiram a era da globalização nas últimas cinco décadas proporcionaram uma evolução notável nos países desenvolvidos no século passado e nos países em vias de desenvolvimento mais recentemente. Contudo, é um modelo de desenvolvimento que requer muita energia e barata.

O paradigma da energia barata e abundante já vai sendo coisa do passado, contudo os países requerem cada vez maiores quantidades de energia para que possam crescer economicamente. O que será verdade é que o crescimento económico só já estará reservado a alguns países e num período de tempo finito, sobretudo aqueles que possuem independência energética e alimentar. A maioria das economias mundiais verão o crescimento estagnar ou até mesmo regredir, sem meios para poder voltar a crescer a taxas de 2% ou mais. 

O petróleo, matéria prima que permitiu pôr a globalização em marcha no início do século XX, foi descoberto em grandes quantidades, pela última vez, na década de 60. Desde essa altura que estamos a consumir das reservas existentes, exigindo todos os anos mais milhões de barris aos países produtores, com excepção do ano de 2009 em que houve uma recessão generalizada nos países ocidentais. Não se encontraram novas reservas nas últimas 4 décadas, à excepção do Mar de Brent (que já entrou em declínio de produção há muitos anos) e mais recentemente no Brasil, que garantam a substituição das existentes quando estas se esgotarem e que confiram capacidade para o crescimento do consumo no futuro.

O mundo terá que sobreviver com menos petróleo, menos energia, e menos capital financeiro. Isso significará uma redução na complexidade das sociedades avançadas, obrigando-as a redefinirem o seu modelo de desenvolvimento. A produção e o consumo de bens e serviços terão um carácter muito mais local, já que o factor distância irá encarecer o bem.

No próximo post iremos transmitir as nossas ideias acerca das soluções que poderão estar ao nosso alcance para que consigamos ultrapassar o desafio que se nos impõe num futuro próximo.


Equipa editorial "caseira"

7 de maio de 2011

OPINIÃO: Mais 3 anos de adiamento com a nossa verdade

Ficámos a saber recentemente que foi concedido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional a Portugal, um empréstimo no valor de 78 mil milhões de euros por um período de 3 anos.
Durante estes três próximos anos, Portugal, com especial incidência no sector público, poderá continuar a viver acima dos seus meios, acumulando dívida e gerando mais despesa do que receita, a saber:

Até 2014, os défices do sector público em função do PIB serão sempre superiores a 3%, e o crescimento do Produto Interno Bruto do país bem abaixo dos 3%, para não dizer abaixo de 0%.

Qual é a natural consequência desta conjugação de circunstâncias?

Mais acumulação de dívida e mais necessidade de recorrer aos mercados para obter financiamento a partir de 2014.
Também o aumento das receitas públicas inscrito neste acordo fará com que a captação de receitas pelo Estado cresça em função do PIB e em valor real, sendo que actualmente já se situa acima dos 41% e em 71,6 mil milhões euros ao ano respectivamente. Não será de espantar verificar num futuro próximo que o Estado captará em receitas valores aproximados de 50% do PIB, ou seja, consumirá em impostos metade de toda a riqueza que Portugal produz.

Veremos se os portugueses aceitarão este gigante que pende sobre os seus ombros, já que o estímulo da fuga aos impostos é hoje mais alto do que nunca na população, e não será difícil de prever que só não fugirá aos impostos quem não puder, criando uma sociedade mais desigual, com uns a jogar o jogo com umas regras, e outros a jogar o mesmo jogo, mas com outras.

Sabemos hoje também que a dívida pública inscrita nas contas públicas de 2010 aprovadas pelo Eurostat ultrapassa os 160 mil milhões de euros, Fonte: Eurostat, e é nossa projecção aqui nas contas caseiras que em 3 ou 4 anos, dependendo da evolução do PIB, evoluirá rapidamente para valores próximos dos 200 mil milhões de euros, bem acima de 100% do PIB.

Quanto aos países da União Europeia que emprestarão dinheiro, deverão fazer bem as contas (que é o mínimo que se lhes exige), e perceberão que terão que se endividar ainda mais do que já estão para emprestar dinheiro a Portugal, sem terem a certeza se serão ressarcidos do capital que emprestaram e dos juros que acordaram.

Mas se não o fizerem e recusarem-se a emprestar, corre-se o risco das instituições europeias se desintegrarem, e a moeda Euro, baluarte da União Económica Europeia, iniciar a sua  caminhada até à extinção, ou por impressão massiva de euros pelo Banco Central Europeu para pagar as dívidas soberanas, gerando inflação e desvalorização da moeda, ou por falência das instituições bancárias europeias que viram o crédito concedido a Portugal e a outros países nos últimos anos não ser liquidado.

Os governantes dos países da União Europeia deixaram-se enfiar numa camisa de forças.
Preso por ter cão, preso por não ter.


Tiago Mestre

Última nota: oxalá esta seja uma oportunidade para verdadeiramente reformar o Estado, as suas instituições e os défices crónicos de tesouraria e de gestão a que se sujeitam ano após ano.