20 de julho de 2011

OPINIÃO: QUE PORTUGAL EUROPEU É ESTE?

Pretendemos com este post colocar à apreciação dos leitores uma breve síntese histórica e económica das políticas que Portugal adoptou no final do século XV e como se podem comparar com as da nossa história muito recente.

A necessidade de Portugal se ter expandido no século XV e XVI deveu-se, entre muitas razões, ao declínio económico que se alastrava pelo país. Durante o século XIV e XV, as receitas do reino caíram para metade, reflectindo o declínio económico que se alastrava a todo o país. Remetemos abaixo três pequenos quadros, extraídos do Livro Ensaios e Estudos, de Vitorino Magalhães Godinho, Editora Sá da Costa, página 148:

Receitas públicas do Reino
à volta de 1367
4700 a 4800 marcos de ouro
à volta de 1402
3706 marcos de ouro
em 1477
2077 marcos de ouro

Face a esta depressão prolongada, Portugal virou-se para o exterior, apostando no Mar, no comércio e na descoberta de novos recursos. A evolução das receitas do Reino assumem outra expressão, conforme se vê no quadro abaixo:

Receitas públicas do Reino ( sem os tratos e sem o Ultramar)
1477
170 253 cruzados-ouro
1506
197 000 cruzados-ouro
1518-1519
285 000 cruzados-ouro
1534
388 000 cruzados-ouro
1557
607 040 cruzados-ouro
1588
939 575 cruzados-ouro
1607
1 322 076 cruzados-ouro

Desde esta altura que Portugal se afirmou como uma potência europeia colonizadora, usando os recursos naturais e humanos das suas colónias para expandir o seu comércio internacional, com ganhos substanciais para o país e para o reino, conforme se percebe pelo quadro abaixo (valores em cruzados-ouro):


1506
1518-1519
Reino
173 000
245 000
Alfândega de Lisboa
24 000
40 000
Ouro da Mina (actual Gana)
120 000 
120 000
Escravos e malagueta da Guiné
11 000
?
Açúcar da Madeira
27 000
50 000
Açores
2 500
17 500
Ilhas de Cabo Verde
3 000
?
Pau-brasil
5000
?
Especiarias Asiáticas
135000
300 000
TOTAL
Mais de 500 500
Mais de 772 500

Somos um povo que, paralelamente à exploração mercantil, se adaptou às circunstâncias locais de cada região do globo, mestiçando-se com as gentes locais e criando afinidades com culturas diferentes. Fenómeno inalcançável por nenhum outro povo da Europa, nem mesmo os espanhóis.

O declínio neste actividade expansiva torna-se irreversível com a independência do Brasil no século XIX, seguindo-se as tendências europeias sobre a disputa de África o “scramble for Africa” com a conferência de Berlim em 1885, a independência de Goa em 1962 e por último a descolonização apressada das colónias africanas na segunda metade da década de 70 do século XX.

Portugal, habituado durante séculos a prosperar e a viver dos recursos que as colónias lhe forneciam, não teve outro remédio senão virar-se para Leste, para a Europa. Aqueles que tantas vezes nos tentaram conquistar ou que sempre invejaram as nossas possessões, passaram a ser os que nos iriam ajudar na transição de um país atrasado e analfabeto para um país culto e desenvolvido, como o deles, agraciado com fundos comunitários e crédito barato para a dita modernização.

Pois chegámos a 2011 e percebemos que a Europa não é a tal locomotiva de desenvolvimento económico e cultural que desejávamos. Para tentarmos chegar ao seu nível cultural, que nunca o atingimos, já sacrificámos o nosso nível económico e financeiro, com a desindustrialização, com o desaparecimento das pescas e agricultura, com contas públicas de prejuízos incontroláveis, défices externos impossíveis de pagar e endividados às grandes potências europeias.

Por considerarmos que este modelo de desenvolvimento cultural está esgotado, por não ter em conta a cultura e a história dos povos, não valerá de muito continuar a escavar à procura de soluções dentro da Europa, porque já passámos a linha da irreversibilidade. O que interessa agora saber é, para que nos possamos preparar antecipadamente, qual será a forma menos dolorosa de cairmos, porque a queda, essa, será inevitável.

O pensamento racional, metódico, pouco humanista, mais tecnocrático e protestante das grandes potências europeias contrasta em demasia com o pensamento semi-racional, genuíno, emocional, humanista e católico dos portugueses. Pelos vistos estas são as grandes qualidades do povo português, mas analisadas pela lupa ideológica do Norte da Europa como sendo os defeitos endémicos que deverão ser corrigidos.

Até quando poderemos contar com esta "solidariedade" europeia?

E até quando iremos aceitar os desmandos de quem nada percebe da nossa cultura mas que, de facto, já nos governa?

Tiago Mestre

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