23 de fevereiro de 2012

China - parceiro comercial e... cultural

Temos insistido aqui no Contas em relatar aos leitores o que de mal se faz hoje na União Europeia e a insustentabilidade económica em que Portugal se encavalitou nas últimas décadas.
A partilha económica e cultural entre Portugal e a Europa do Norte tem sido desequilibrada e sobretudo leonina para a segunda parte.
Também aqui no Contas temos relatado as divergências culturais e civilizacionais entre as culturas do Sul e do Norte da Europa. Estas divergências começam a emergir, tal e qual como um icebergue que está perdendo nível de água.

Mais do que nunca, os portugueses e as portuguesas precisam de se reencontrar consigo próprios, como portugueses assumidos, sem comparações com as culturas do Norte. Precisamos de saber com que país é que podemos contar e quais as potencialidades internas que temos.
Reduzir a presença do Estado e tornar a economia menos dependente da manipulação estatal só reforçará a nossa capacidade de sobrevivência e criatividade. Outra alteração essencial é transitar população ativa do setor dos serviços para a indústria e fundamentalmente para a agricultura. Precisamos de evitar bens importados, tanto de primeira necessidade com de segunda e até de terceira. Os serviços têm que cair dos seus 78% do PIB para 60% ou até 50%. Mas se juntarmos a tudo isto um parceiro económico, com pontos culturais em comum, que nos forneça meios e ferramentas para que o país mude a sua trajetória de endividamento e dependência do jugo europeu, então meus amigos, a conversa muda de figura.

A China entrou recentemente em Portugal, pelo menos de forma oficial, na aquisição de acções de empresas que até agora eram detidas maioritariamente pelo estado português. Suspeitamos que a presença chinesa em Portugal ao mais alto nível não seja de agora, e pela “calada”, à boa maneira chinesa, já realizam trabalho preparatório há algum tempo tendo em vista novos investimentos.

A cultura chinesa ainda é um paradoxo para nós, na medida em que grande parte da sua história secular reflecte guerras “intestinas”, fecho de fronteiras, e pouca ou nenhuma abertura ao mundo exterior.

Recentemente vimos um documentário sobre o percurso político do ex-secretário de estado norte-americano Henry Kissinger, e este afirmava que há 40 anos a China não comunicava com o exterior. Simplesmente não se sabia o que lá acontecia.
A história secular da China sempre reforçou a ideia de que a sua cultura é de dentro para dentro, e daí a nossa perplexidade nesta expansão imperialista/capitalista que Deng Xiau Ping iniciou em finais dos anos 70 e que hoje chegou à categoria de potência industrial do planeta.

Suspeitamos da sua capacidade em manter-se como uma potência imperialista durante muito tempo no mundo, mas tais reservas não nos devem inibir de experimentar uma relação que se pode tornar frutuosa.

É crucial perceber o que é que eles querem de Portugal e que tipo de relação querem estabelecer com os portugueses. A relação só será interessante se perceberem e respeitarem primeiro a nossa história e a nossa cultura. Se for para jogar connosco da mesma maneira que os países do norte da Europa jogaram, então, não obrigado!

Tiago Mestre

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