29 de março de 2012

Estado "compra" aos bancos a dívida das autarquias. Humm!

Mais abjeção moral:

Estado decide "adquirir" créditos que os bancos concederam às autarquias. E com este passe de mágica se  transferem 2 mil milhões de euros de risco bancário para o setor público. E o que tem o português contribuinte a ver com a dívida das câmaras? Nada, mas graças à (falta) de moral da classe política, a fatura fica mais uma vez do lado do "tuga".

Se os bancos emprestaram sem regra, então deveriam sofrer as consequências desses maus investimentos. É assim na vida das empresas e na nossa vida.

Mas a classe política gosta de desafiar a realidade, deve dar "pica", ou seja:
Quem cometeu asneiras e não se portou bem... é salvo... à custa de quem? Do cidadão contribuinte que desconta todos os meses e que nada tem a ver com o assunto.

Na hora da verdade, os políticos cedem sempre, sempre. É mais forte do que eles. Ninguém quer presenciar o cataclismo que a verdade dos factos exige, e portanto adia-se o que não se consegue suportar.

Moral Hazard à portuguesa

Tiago Mestre

28 de março de 2012

Alteração ao código laboral e sua inconstitucionalidade

Ouvíamos esta manhã no noticiário da Antena1 um especialista em matéria laboral acerca da proposta do PSD/CDS. E o que referia o tal especialista?
- a proposta viola a constituição portuguesa;
- o modo como foi feita revela uma forma de fazer leis que tenta contornar a constituição, sem a contradizer de forma evidente;
- tal requinte jurídico só poderia vir de gabinetes de advogados afetos ao governo, com ampla experiência na execução deste tipo de "propostas" de lei.

Gostámos do que ouvimos, contudo o sr. especialista-de-quem-não-nos-recordamos-o-nome já vem atrasado, e talvez por ingenuidade é que ainda revela uma opinião destas.

A Constituição refere que não é permitido despedimentos sem justa causa. Esta proteção jurídica tenta favorecer empregado e desfavorecer empregador, como tentativa de repor algum desequilíbrio natural na relação contratual entre estas 2 entidades.

Compreendemos a (boa) intenção da lei, mas quem anda nesta vida das empresas sabe que em tempos de prosperidade esta regra é supérflua porque o empregador que tem trabalho a mais necessita sempre de empregar, desde que as exigências do trabalhador não coloquem muito em causa a rentabilidade dos negócios.

Em tempos de declínio a regra ou atrapalha ou não é cumprida, porque se o empregador perde trabalho, ou força alterações unilaterais de contratos, ou despede por mútuo acordo ou não despede por falta de dinheiro, deixando arrastar a empresa até à falência e aí não pagar a ninguém: nem a empregados, nem a fornecedores, nem ao estado. Esta última opção é talvez a preferida da maioria dos empresários.

São estas as táticas vigentes.

A regra constitucional de impedir o despedimento torna-se assim uma banalidade jurídica, apesar da boa intenção que esconde por detrás.
Quando a vontade jurídica está muito distante das vicissitudes da realidade, é a força das leis que fica SEMPRE a perder, com a respetiva descredibilização do próprio sistema.

Se o governo quer alterar a lei laboral para flexibilizar despedimentos e contratações, mas está blindado pela constituição, o que deveria fazer era propor a alteração da constituição ao parlamento. E se tal desígnio fosse chumbado, a demissão do cargo seria a única opção digna.

Mas como tal rigor de princípios é hoje uma quimera moral bem distante, Passos Coelho e Álvaro atalham caminho e tentam atropelar, mas sem ferir, a constituição portuguesa, arranjando estas alterações ao código do trabalho que jogam na fronteira dos limites da constituição.
Esta é a política do desenrasca, do compromisso e da abjecção moral.

Siga pra bingo. O que é preciso é fazer coisas, agradar à troika e receber o dinheirinho que tanta falta nos faz!

Tiago Mestre

27 de março de 2012

O Porto é uma nação!

Caros leitores e leitoras, a cidade do Porto, respetiva autarquia e presidente eleito têm sido um exemplo para Portugal em como se pode reduzir despesa e dívida pública em simultâneo com a reorganização da cidade.

A cidade do Porto transformou-se, e se hoje foi consagrada como o melhor destino turístico na Europa em 2012, tal deve-se a um trabalho nos bastidores, sem alarido e de forma empenhada durante anos.

Quem conhece o Porto desde há vários anos é impossível não reparar na afluência de novos turistas, no movimento das galerias Paris ao fim de semana e no vibrar de novos projetos em cada esquina.

O Porto e a região norte estão hoje num patamar de maior sustentabilidade, tanto social, como até alimentar, do que o resto do país. As hortas e os pequenos quintais proliferam, revelando que a ligação com o passado rural não está esquecido. Em tempos adversos e em que o dinheiro escasseia, a sociedade manter-se-á tanto mais unida quanto mais as relações se fortalecerem e o espírito de entreajuda floresça.

A vida excessivamente urbana, como no caso de Lisboa, esquece que sem dinheiro pouco ou nada se pode fazer. Este é talvez o maior drama que os novos pobres urbanos enfrentam, e sem dúvida que a força da comunidade revelar-se-á muito mais débil.

Parabéns ao Porto e àqueles que silenciosamente têm tornado a cidade mais sustentável e com menos dívida.

Tiago Mestre

23 de março de 2012

Os gregos saberão como recuperar a dívida que os alemães contraíram por terem invadido a Grécia na 2ª Guerra Mundial

Grécia: civilização milenar, muita história, muita cultura, e muita sabedoria.

A 5 de Fevereiro publicámos um post que refletia acerca das capacidades dos gregos em jogar poker económico com a União Europeia. O sucesso tem sido retumbante, e não fosse uma economia tão estragada pelas políticas europeias e pelo dinheiro barato europeu, ainda acreditávamos que a Grécia seria o grande vencedor do concurso.

Basicamente, a civilização helénica especializou-se ao longo de milhares de anos em fazer bluff!
A Alemanha, nação bélica, lógica, racional e organizadora, não compreende este modo de jogar. Para os alemães, a "mão" mais forte é aquela que deve ganhar, ponto final.
Para os gregos, a "mão" só é forte se for acompanhada de uma grande dose de bluff, a tal ponto que um péssimo conjunto de cartas se pode tornar rapidamente numa "mão" espetacular.

No dia em que os gregos jogarem sem bluff, bye bye civilização helénica.
No dia em que os alemães jogarem com bluff, bye bye Wagner.

Como é do conhecimento geral, supostamente a Grécia reclama uma dívida à Alemanha pelos estragos da invasão na 2ª Guerra Mundial. 70 anos volvidos, a dívida será realmente liquidada, mas não da forma que os alemães previam.


Tiago Mestre

(Aparentemente) o problema europeu está resolvido!

Caros leitores e leitoras, em múltiplas declarações, líderes europeus têm referido que o pior da crise europeia já passou, apesar de ainda gravitarem alguns riscos pendentes.

Este tipo de sentenças, como ouvimos da boca de Draghi ou de Barroso, reflectem o modo desesperado dos líderes europeus em se quererem ver livres desta embrulhada e chutar o problema lá mais para a frente, de preferência para um futuro tão distante que nenhum deles ainda cá esteja a gravitar.

Não há almoços grátis, mas quando Draghi decidiu soltar os cordões à bolsa imprimindo 1 trilião de euros num espaço de 3 meses, é óbvio que algo de transitoriamente positivo teria que ocorrer:

~ Mais dinheiro a perseguir os mesmos bens, subindo o valor destes. Tais operações reforçam o valor dos ativos dos bancos tornando-os menos arriscados.
Num parágrafo, foi isto que Draghi tentou fazer e, em abono da verdade, até conseguiu. Resta saber por quanto tempo. Esta operação financeira do BCE assemelha-se muito à injeção de drogas num paciente profundamente dependente e que desesperava há já alguns dias. O paciente ainda vive agora momentos de delírio e suposto bem estar, mas a realidade, mais cedo ou mais tarde, voltará a instalar-se, e com ela vem a ressaca e o desespero por mais. É esta a parte da história em que o empregado do restaurante vem cobrar o suposto almoço grátis.

Draghi talvez tenha subestimado que a injeção desta droga em doses massivas também afeta o preço de certos bens que nenhum de nós gosta, como o petróleo, por exemplo. Neste aspeto não é só Draghi o ator principal. Ben Bernanke, governador da Reserva Federal Norte-Americana, há muito que se iniciou nestes rituais manipulatórios. Ainda Draghi procurava emprego e já Bernanke influenciava ativamente os mercados de capitais com as suas ridículas taxas de juro de 0,25% e a aquisição de ativos tóxicos que "certos" bancos possuíam nos seus balanços mas que desesperadamente se queriam ver livres.

Draghi quer-nos fazer acreditar que agora as coisas irão correr melhor, e caso os mercados comecem a descarrilar, ele lá estará, qual cão raivoso, a influenciar, a manipular e a boicotar, se for preciso, o normal funcionamento do mercado, que apenas se deveria basear na percepção de risco de quem quer comprar e de quem quer vender.

Não é por acaso que desde há 4 dias consecutivos que as bolsas europeias registam perdas correspondentes aos ganhos das últimas semanas. Basicamente, o dinheiro fresco também se esgota. Quem comprou ativos que podem subitamente subir de valor (como ações) deve estar preparado para a sua súbita queda. O mesmo se aplica para a grande maioria dos bens que são hoje transaccionados nos mercados electrónicos/virtuais, nomeadamente as obrigações da dívida soberana.
Já estamos a ver o empregado do restaurante a deslocar-se para a nossa mesa com o talão de venda na mão.

Cortesia do site Zerohedge, abaixo publicamos a evolução do preço das "novas"obrigações gregas que os investidores trocaram pelas "velhas" a meio de Março deste ano:


Ui, faz lembrar as obrigações gregas "velhas" em Janeiro-Fevereiro de 2010. Oxalá estejamos enganados.

Tiago Mestre

22 de março de 2012

Mais uma despesa não cabimentada

Caros leitores e leitoras, afinal teremos algures num dos próximos meses mais uma despesa extraordinária: 264 milhões de euros. Refere-se à indemnização que todos teremos que pagar ao consórcio que trabalhou durante 3 ou 4 anos na elaboração do projeto do TGV.

Tal como o governo não se "apercebeu" que em Fevereiro teríamos:

1. Uma despesa extraordinária de 260 milhões em juros.
Talvez estivessem à espera que os credores lhes perdoassem esta dívida!

2. E mais de 300 milhões em transferência para a RTP.
O governo nesta matéria também se/nos baralhou, porque eles já sabiam desde 2011 que a RTP era para privatizar. E se era para privatizar, ficou então decidido que a dívida teria que ser liquidada para tornar a empresa apetitosa. Recordamo-nos do ministro Relvas ter sido peremptório nesta opção política há já vários meses. Imaginem quem irá assumir a dívida? O Estado, que é o único acionista, ou seja, nós!
O governo sabia que esta despesa entraria mais tarde ou mais cedo nas contas do Estado, logo não a podia considerar como extraordinária ou não cabimentada. Quando se decide aumento de despesa deve-se ver primeiro se há espaço para o aumento de receita. Tal não foi acautelado e vemos agora o governo, pela mão do primeiro ministro, a desculpar-se desta execução orçamental de Fevereiro por motivos de despesa extraordinária.

Há anos que ouvimos os vários governantes referir que há derrapagem na despesa por motivos extraordinários, e que estes não se irão repetir no futuro.
Foram os submarinos, foi o aumento do desemprego, juros a mais que se pagaram, incorporação de prejuízos de empresas públicas nas finanças do Estado, "descoberta" de dívidas no Arquipélago da Madeira, etc, etc, etc.

Sugerimos ao governo que se prepare para as potenciais despesas extraordinárias que ainda faltam cabimentar, e que explique aos portugueses o que lhes espera:

1. Liquidação de parte da dívida dos municípios;
2. Liquidação de parte da dívida de empresas públicas que ainda não estão no perímetro do Estado, como a Estradas de Portugal ou a CP;
3. Liquidação de dívidas de empresas públicas que estão à espera de serem privatizadas, como os Estaleiros de Viana, o Arsenal do Alfeite ou a TAP;
4. Pagamento de indemnizações por despedimento de trabalhadores de empresas públicas;
5. Pagamento de indemnizações por despedimento aos funcionários do BPN;
6. Pagamento de renda aos concessionários das ex-SCUT, por afinal ser ilegal cobrarem portagens electrónicas nestas vias de comunicação;
7. Pagamento de indemnizações por despedimento de funcionários da administração central ou dos serviços autónomos, quando ocorrerem extinções de institutos politécnicos, universidades, etc;
8. Pagamento de indemnizações aos concessionários das energias renováveis e cogeração, por verem os seus contratos violados unilateralmente;
9. Pagamento de indemnizações aos concessionáriso das PPP's, por verem os seus contratos violados unnilateralmente;

A lista continua..

A gestão de informação do governo precisa de ser mais bem oleada, na medida em que a verdade já começa a chegar tarde e a más horas com relativa frequência.

Tiago Mestre

21 de março de 2012

Preço do petróleo a subir e muitas eleições à porta. O que se seguirá?

Caros leitores e leitoras, seguir-se-á manipulação, que é aquilo que os políticos tanto gostam de fazer quando precisam de "agradar" a potenciais eleitores.

Aguardamos que algo seja anunciado, ou por Barack Obama, ou pela IEA (International Energy Agency) ou por qualquer outra entidade que tem o poder de "abrir" mão das reservas estratégicas de petróleo que muitos países, como Portugal, possuem.

Políticos desesperados clamarão sempre por medidas desesperadas. Onde estão os estadistas?

Tiago Mestre

É POR ISTO QUE OS ECONOMISTAS JÁ NÃO SERVEM PARA EXPLICAR A REALIDADE ECONÓMICA E SOCIAL DE PORTUGAL

Hoje, o estado português endividou-se no mercado em mais 1992 milhões de euros com maturidade a 1 ano.

A taxa de juro desceu de 4,9% na última emissão para 3,6% na emissão de hoje com a mesma maturidade.

A opinião de Filipe Silva, do Banco Carregosa, é peremptória:
“São definitivamente boas notícias para Portugal: as taxas desceram de forma muito significativa o que revela que a percepção do risco sobre Portugal está a reduzir-se e bem”

Os economistas deveriam perceber que quem não aprende com os erros do passado está condenado a repeti-los no futuro. A afirmação não é nossa, mas a sabedoria subjacente à mesma merece o nosso maior apreço.

PORTUGAL ENTROU NESTA ESPIRAL DE ENDIVIDAMENTO PORQUE OS INVESTIDORES ACREDITARAM QUE A NOSSA DÍVIDA ERA SUSTENTÁVEL E PAGÁVEL.
EM 2011 DEIXARAM DE ACREDITAR, MAS COM O PATROCÍNIO DO BCE, DA UE E DA TROIKA, VOLTARAM A ACREDITAR EM 2012!

É isto que políticos e economistas querem ouvir e reafirmar até à náusea! Surreal.

Mas:
A dívida pública "declarada" é já superior à riqueza que Portugal produz num ano inteiro.
O Estado ocupa mais de 50% de toda a economia nacional, quando em 1975 não excedia os 15%.

Que mais é preciso para convencer economistas e políticos que a dívida é insustentável e que pedir dinheiro emprestado é como um veneno que estamos a importar?

Bastará aos investidores "soltar a rédea" para que os políticos e a população em geral tornem logo a endividarem-se sem regra. E é exatamente isto que não pode acontecer. A história portuguesa tem revelado que estas políticas são insustentáveis e que as políticas opostas é que promovem saúde financeira e economia mais próspera.

Tiago Mestre

Com o boletim de síntese orçamental de Fevereiro de 2012 fica-se a perceber muita coisa!

Caros leitores e leitoras, vivemos momentos cruciais nas finanças portuguesas, sobretudo para quem acredita que somos mais parecidos com a Irlanda do que com a Grécia.

Não somos parecidos nem com uns nem com outros, mas aos olhos dos investidores internacionais estamos bem mais próximos da civilização helénica do que da cultura celta. É assim que nos vêem, e pouco adianta papaguear marketing político no circo europeu de que "não somos a Grécia"..

É o nosso passado cultural que nos pode ajudar a identificar aquilo que verdadeiramente somos. O resto são opiniões de gente mais ou menos ignorante.

Mas falando em números, Fevereiro de 2012 fica para a história desta legislatura como um mês em que o fardo da dívida se revelou o maior inimigo do governo e dos portugueses.

O Estado teve que pagar em Fevereiro de 2012 a módica quantia de 427 milhões de euros em juros e encargos com a dívida. No mesmo mês do ano passado esse valor não ultrapassou os 150 milhões de euros.
Para 2012 o governo estima que os juros a pagar sobre a dívida pública ascenderão a 9 mil milhões de euros, portanto os 427 milhões de euros de Fevereiro, e os 134 milhões de Janeiro são apenas um pequeno aperitivo para o que aí vem: a maior drenagem de riqueza para o exterior a que Portugal já assistiu na sua história.

A somar a esta variável da equação temos a receita e despesa públicas:

Fonte: DGO

Receita: 6259 milhões em Fev2012 contra 6541 milhões em Fev2011. Menos receita este ano, apesar de que ainda faltam as "novas" receitas provenientes do aumento do IVA em alguns produtos, e que só deverão entrar a sério a partir de Abril. Mas acreditamos que isso não fará uma diferença substancial.

Despesa: 7057 milhões em Fev2012 contra 6816 milhões em Fev2011. Mais despesa este ano, O aumento dos juros (+263 milhões) quase que neutralizou toda a redução de despesa que o governo tem conseguido efetuar (-327 milhões). As transferências para a RTP (superiores a 300 milhões), consideradas como despesa, foram o prego que faltava no caixão do mês.


Isto é verdadeiramente um problema, e dos grandes, porque a governo transmitiu à população portuguesa que este esforço valeria a pena, e que após a tempestade lá teremos o direito à bonança!

Fevereiro foi uma espécie de anti-clímax para o governo, em que tudo o que sugeriu durante meses à população portuguesa que iria acontecer se revelou exatamente no seu contrário.

Quando se fala demais e não se tem a certeza do que se está a dizer, pode-se virar o feitiço contra o feiticeiro. É por estes motivos que a população se farta dos seus políticos e os governos caem sucessivamente. Gerem mal a verdade julgando que gerem muito bem a informação.

Começámos a 14 Julho de 2011 por explicar a farsa que era a história (na altura) de que a austeridade tinha pouca influência no PIB. Mês após mês o logro foi-se desmistificando e hoje, em Março de 2012, temos a correlação entre austeridade e recessão em todo o seu esplendor.
O próprio BCE veio ontem referir que Portugal poderá sofrer uma recessão de 5% em 2012!! Oops

Sugerimos aos novos seguidores do Contas que leiam os nossos posts intitulados "A matemática costuma ganhar, às vezes tarde demais", publicados em Outubro de 2011.

Tiago Mestre

20 de março de 2012

Srs. Agricultores, podem ficar quietos porque o dinheiro já vem a caminho!

Caros leitores e leitoras, quando há seca em Portugal a Europa despacha dinheiro como forma de "resolver" o problema. Infelizmente não resolve, só agrava.

Certamente haverá agricultores a quem este dinheiro fará muita falta, mas para muitos outros é mais uma oportunidade para estar quieto e esperar pelo pior, porque quanto pior melhor. Explicamos:

Quem apresentar mais prejuízo, mais animais a passar fome e sede, mais pastos secos e mais terrenos moribundos, mais elegível ficará para receber os tais fundos. Não sabemos se será assim porque desconhecemos os critérios, mas certamente que quando se promete dinheiro a troco de nada, os agricultores adaptam-se e quanto pior, melhor.

300 milhões de euros é muito dinheiro, a tentação é grande e se para alguns o dinheiro é essencial para reinvestir na terra, para outros será para investir em tudo menos na terra.
Para o ano já sabem: se houver seca, não vale a pena poupar na água, não vale a pena tomar decisões de racionalização e de gestão eficiente dos recursos físicos. O melhor é gastar depressa e de forma bem vistosa. O dinheiro estará lá à espera.

Quando se promete dinheiro a alguém a troco de nada, mesmo ao mais recto e honesto dos homens, este pensará sempre duas vezes, sempre!

Tiago Mestre

15 de março de 2012

Seca Meteorológica - como podemos tentar evitar o pior !

A seca em Portugal começou por meados de Dezembro 2011. Passaram 3 meses e a precipitação ocorrida há 1 semana em nada permitiu a reposição do que entretanto se perdeu.

Até ao dia 8 de Abril não haverá precipitação no horizonte que desagrave a condição de seca meteorológica, segundo Adérito Serrão, presidente do Instituto de Meteorologia.

Maio, Junho, Julho e Agosto são meses tradicionalmente menos chuvosos. E mesmo que chova mais do que é normal nessa época do ano, tal precipitação poderá não ser suficiente para compensar a quebra de precipitação já ocorrida neste Inverno.

O governo, através da ministra da lavoura, como a apelidou Pacheco Pereira, vem 3 meses depois do início da seca referir um conjunto de medidas administrativas no sentido de aliviar a pressão sobre os produtores de pasto, de cereais e de gado. Tivemos oportunidade de ouvir as medidas anunciadas e realmente pouco mais passam do que medidas administrativas e de carácter totalmente temporário.

Os agricultores pouco beneficiarão com isto porque as culturas já estão ou condicionadas, ou parcialmente perdidas ou totalmente perdidas. As ajudas do Estado seriam bem vindas se tivessem lugar antes da ocorrência da seca, ou na pior das situações, a tempo de se decidir se valeria a pena manter as culturas ou dá-las como perdidas em função das perspectivas meteorológicas de médio e longo prazo.
 Os cereais de Inverno foram semeados sem a intenção de serem regados, mas devido à seca muitos deles tiveram que o ser, e se não o foram, ou se perderam ou pouco cresceram.
Os que foram regados com recurso a poços, barrancos ou pequenas barragens acabaram por consumir água que estava destinada para se usar na Primavera e Verão, sobretudo para regar cereais de Verão ou quaisquer outras culturas. Sendo a água um bem finito e nem sempre tão renovável como gostaríamos, se se consome agora dificilmente sobra para uma futura utilização no curto prazo.

Muitos agricultores terão que decidir se regam agora para salvar as suas culturas de Inverno ou se as dão como perdidas e guardam a preciosa água para as culturas de Verão.

Este tipo de decisões devem ser tomadas em função da melhor informação disponível que existe sobre a meteorologia e índices de precipitação para os próximos 3 meses, e na nossa opinião,é neste contexto que o ministério da lavoura e restantes entidades públicas podem prestar um auxílio da maior relevância à população.

Sugerimos aqui várias perguntas que muitos agricultores gostariam de ver respondidas, ou pelo menos abordadas, mesmo com informação de carácter probabilístico:

1. Para o próximo trimestre (Abril, Maio e Junho), que probabilidades há da ocorrência de precipitação igual à média dos anos anteriores, ou seja, a de um ano "normal"?

2. E caso até haja uma probabilidade de precipitação superior à média, poderá essa quantidade adicional corrigir parte do défice de precipitação já registado em Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março?


3. E caso a probabilidade seja inferior à média, qual o agravamento que se espera na condição de seca meteorológica?


4. As mesma perguntas acima referidas, mas para as temperaturas do ar.

O Instituto de Meteorologia já publicou que até 8 de Abril não haverá precipitação em quantidade que sirva para o que quer que seja, e a pouca que possa ocorrer, quanto muito reduzirá apenas o agravamento da seca meteorológica. Se em Abril águas mil, então 25% do mês já não ajudará ao cumprimento do ditado popular.

E o que disse a Ministra da lavoura sobre isto, coadjuvada ou não pelos institutos públicos que estudam estas matérias? Nada de especial..

Suspeitamos, na nossa ignorância, que Abril, Maio, Junho, Julho e Agosto serão meses que não conseguirão compensar a falta de água de Inverno, e se não agravarem a seca existente já não seria nada mau.

Podendo ser este um cenário pessimista, é sobre ele que, na nossa opinião, se deve trabalhar para o próximo semestre, elucidando os agricultores para o pior cenário possível e impelindo-os desde já a iniciarem o seu "trabalho de casa" no sentido de minimizar estragos. Se até ao final do Verão a probabilidade de seca se mantiver, então é preciso analisar o que já hoje se perdeu, o que se pode salvar e o que não se deve fazer para evitar prejuízos.

Uma sugestão que damos aqui no Contas aos agricultores que nos acompanham:

NÃO FAÇAM REGAS DURANTE O DIA!

Constatámos há 3 dias na zona de Alcochete e Santarém muitos sistemas de rega Pivot a regar às 2 duas da tarde com temperaturas superiores a 20ºC . A evaporação que ocorre nesta condições é um desperdício a que os agricultores não se podem dar ao luxo. Mesma que a água seja proveniente de um furo, este baseia-se nos lençóis freáticos subterrâneos, e se houver muitos furos em simultâneo a retirar água do mesmo lençol, dificuldades podem ocorrer no abastecimento, sobretudo para quem tem furos menos profundos e bombas mais à superfície.

É preciso ajudar os agricultores a tomarem decisões baseadas na informação que apenas alguns institutos públicos e outras entidades especializadas conseguem obter. Isso sim, é serviço público!

Quem ouviu hoje os deputados e a ministra na Assembleia da República a falar sobre a seca, apenas se fala em fundos, em subsídios, no PRODER, no QREN, na taxa de execução, em milhões para aqui e milhões para acolá. Palha.

Tiago Mestre

Eurostat confirma a nossa convicção de deflação nos salários em Portugal !

Caros leitores e leitoras, temos dado ênfase nas últimas semanas à ocorrência de um curioso duplo fenómeno:

Inflação bem acima dos 3% no preço dos bens e;
Deflação no preço do trabalho (salários)

Parece paradoxal que num país onde há menos dinheiro no bolso de cada cidadão, os preços dos bens não param de subir!

As razões para tal fenómeno já foram exploradas aqui, e para reforçar as nossas ideias temos o serviço de estatística europeia (Eurostat) a confirmar matematicamente este duplo cenário:

A 29 de Fevereiro publicou uma inflação para Portugal de Janeiro de 2012 face a Janeiro de 2011 de 3,4%;

A 15 de Março publicou os custos laborais. Em 2011, Portugal viu as contribuições salariais reduzirem 1,7%.

Cada português e cada portuguesa viram em 2011 uma redução estimada do poder de compra de 3,4% + 1,7% = 5,1%


Sobre os custos salariais terem descido, pouco há a fazer, na medida em que é uma consequência direta da economia que temos: mais pessoas a competir por menos emprego tem que resvalar em redução de salários e/ou aumento de desemprego - não há volta a dar!

Mas a inflação é outra história, na medida em que esta foi fortemente influenciada pelo aumento de impostos, uma decisão unilateral do governo para se desenrascar com a troika; e pela impressão de dinheiro à pressa e sem critério pelo BCE, que o entregou de bandeja aos banqueiros, tendo ido parar algum dele aos mercados reais e aos mercados de derivados onde se especula transacciona petróleo e outros bens essenciais à população.
O tuga que se aguente!

Tiago Mestre

Dilma aborrece-se com a impressão de dinheiro à escala mundial

Como nós a compreendemos.

Notícia aqui

Tiago Mestre

Com a seca haverá menor produção de cereais, logo os preços irão subir. Será?

Caros leitores, a seca que Portugal atravessa terá efeitos irreversíveis na produção de cereais.
Se a produção diminui, pressupõe-se que o preço irá aumentar, mesmo com um consumo estagnado ou até em recessão. Infelizmente este pressuposto não é verdade, prejudicando duplamente os produtores. Porquê?

Portugal importa grandes quantidades de cereais todos os anos, e portanto uma quebra na produção nacional não é suficiente para alterar a estrutura de preços. Como já dependemos muito do exterior (mais de 70%), uma quebra de 50% na produção nacional equivalerá a uma redução na oferta ao consumidor de 15%. O défice na produção portuguesa será facilmente neutralizado  em aquisições adicionais ao estrangeiro. E como esse acréscimo de aquisições ao estrangeiro é irrisório no contexto de produção mundial, os preços manter-se-ão sem oscilações significativas.

Quem fica a perder são os produtores, que ao verem a produção cair, não vêem os custos a cair proporcionalmente, e com o preço de venda a não subir, ficam duplamente penalizados.

Estas não são boas notícias para os produtores de cereais de Verão (milho) e de Inverno (trigo e aveia).
Menos agricultura significa mais importações. Mais importações significam agravamento da balança comercial e maior esforço pedido às exportações. São Pedro não nos está a ajudar!

Tiago Mestre

14 de março de 2012

Inflação sobe em Fevereiro face a Janeiro !

Caros leitores e leitoras, num país que está em plena recessão, com os salários e subsídios a serem reduzidos todos os dias, a inflação teima em não baixar.

O INE publicou a inflação do IPC (Índice de preços ao consumidor) para Fevereiro de 2012 e a percentagem foi de 3,7% face a Fevereiro de 2011. De Janeiro de 2012 para Fevereiro de 2012 a taxa de inflação subiu 0,1 pontos percentuais.
Descontando a energia e os bens alimentares, a inflação foi de 2,2% face a Fevereiro de 2011!

Temos esta situação curiosa:

Deflação nos salários e inflação nos bens!
Estamos duplamente a perder poder de compra.

E porquê? Leia aqui

Tiago Mestre

3, 2, 1... Start your printers ! (Parte 2)

Em Outubro de 2011 publicámos um pequeno post que refletia sobre a vontade dos governadores de bancos centrais em imprimir dinheiro como forma de manter as economias e o sistema bancário à tona de água. Na altura o BCE já comprava grandes quantidades de dívida soberana, o Banco de Inglaterra a mesma coisa mas apenas para as obrigações inglesas, o Banco do Japão idem, a China idem e a Reserva Federal, de forma mais velada (manipulando as taxas de juro nos leilões de dívida americana) também. O Banco Nacional Suíço também decidiu imprimir moeda para conter a subida do franco suíço, etc, etc.

Percebemos hoje que os motores das impressores nessa altura começavam apenas a aquecer. Com todo o nervosismo que se acumulou em 2011 e que "explodiu" em Novembro, sobretudo na Europa, o recém-chegado presidente do BCE Mario Draghi decide atuar com mais veemência no mercado bancário, emprestando ainda mais dinheiro e em condições bem mais favoráveis a qualquer banco, desde que apresentasse como colateral ativos que já pouco ou nada valem. A operação LTRO teve a primeira fase em final de Dezembro e a segunda fase em Fevereiro. Houve bancos que aceitaram a "oferta" e outros houve que acharam o risco de dependerem do BCE mais prejudicial do que benéfico. Enfim, com esta injeção massiva de dinheiro no mercado bancário, muito do nervosismo do dia-a-dia dissipou-se.

Com o passar de Janeiro e Fevereiro, o mundo financeiro apercebeu-se de que afinal alguma da relutância que havia por parte da Alemanha na impressão de dinheiro pelo BCE era afinal mais "letra" do que ação. Era isto que faltava aos investidores e aos banqueiros para voltarem a fazer o que sempre fizeram: comprar ações de outras companhias e das suas próprias, investir em dívida soberana de países insustentáveis, emprestar sem regra, agigantar ainda mais os próprios bancos tornando-os cada vez mais frágeis.

Ou seja, o BCE com o consentimento dos restantes bancos centrais deu mais um balão de oxigénio ao mundo financeiro, evitando reformas e preservando o modo de actuar business as usual.

Dito isto, fica a sensação de que não mais haverá no curto prazo problemas de liquidez nos bancos, mesmo os que estão falidos, na medida em que os bancos centrais, perante o aperto de Novembro de 2011, aliviaram tudo o que era regra de boa arte no negócio bancário.

Já em Março de 2012 Mario Draghi afirmou que caso o colateral oferecido pelos bancos para a obtenção de empréstimos seja de qualidade inferior às exigências do BCE, Draghi baixará essas mesmas exigências. Tudo está feito para que o risco sistémico dos bancos se transfira para o sistema público e para a moeda que todos nós utilizamos e que supostamente deveríamos confiar. Até sugerimos a Draghi outra coisa: elimine a necessidade de colateral! Empreste simplesmente o que os bancos precisarem sem pedir garantias de espécie alguma, e assim, de uma só vez, transfere todo o risco do privado para o público.

Todas estas benesses foram do agrado dos investidores e a corrida às bolsas e à dívida soberana dos países que estão no limbo (Itália, Espanha, Bélgica, etc) voltou novamente.

Conclusão: Se Trichet já era um mãos largas, Draghi é muito mais, e talvez fosse esta a engrenagem que faltava na mega impressão de dinheiro que se espera neste planeta Terra nos próximos anos.

Sempre que houver um aperto já sabem, os governadores dos bancos centrais (políticos) sucumbirão aos princípios morais que devem reger qualquer cidadão, só para que se salve mais um dia.

Tiago Mestre

13 de março de 2012

6º Post: A energia (renovável) somos nós - O contexto que levou à demissão do secretário de estado da energia

Caros leitores e leitoras, não esperávamos já em Março 2012 que aparecessem notícias sobre a barafunda energética em que Portugal e os portugueses por arrasto estão metidos.

Com a demissão do secretário de estado da energia, Henrique Gomes, reabre uma ferida bem profunda que só deveria aparecer lá para Outubro de 2012, quando se renegociassem as tarifas da energia para 2013.

Esta ferida chama-se: DÉFICE TARIFÁRIO

Abordámos aqui no Contas de forma exaustiva ao longo de Agosto, Setembro e Outubro de 2011 todo este dossier, com os posts intitulados "A energia (renovável) somos nós"

A energia (renovável) somos nós porque somos nós, cidadãos consumidores, que a estamos a pagar a um preço bem acima da energia produzida em centrais térmicas e termoelétricas.

Henrique Gomes, tanto quanto conseguimos perceber, tinha a vontade de baixar o valor destes subsídios pagos à EDP e a outras empresas produtoras, minimizando o impacto no aumento do preço da energia aos consumidores.

Mantendo as rendas à EDP, aos outros produtores e não aumentando o défice tarifário para 2012, o aumento de preço deveria ser de 30% em 2012. Esta era a proposta do PS, mas Passos Coelho e Álvaro Santos Pereira decidiram adiar este embate para 2013. Em Novembro de 2011 Álvaro Santos Pereira e Henrique Gomes tentaram reduzir essas rendas, mas tal decisão pressupunha violação unilateral de contrato, e a EDP (e bem) defendeu-se juridicamente. A negociação falhou e ficou a promessa que depois da privatização da EDP o assunto seria retomado. Henrique Gomes consentiu a espera, e não percebeu ou não quis perceber que o adiamento era de carácter perpétuo e não temporário. Quando percebeu essa nuance fez aquilo que um homem de princípios deve fazer: demitir-se.

Toda esta trapalhada deriva da monumental asneira política de subsidiar as energias renováveis sem haver dinheiro para o fazer. Não discutimos a nobreza e a categoria tecnológica que tais avanços garantem ao país, mas se não há dinheiro, é nossa opinião aqui no Contas que não se deve fazer.

Explicámos em Agosto de 2011 esta questão da subsidiação às renováveis e respetivas consequências.

Henrique Gomes sabe que o aumento da energia eléctrica para 2013 será bem superior a 20% caso não se mexam nos contratos. O Governo não quer anunciar para já aumentos dessa dimensão, mas também não quer mexer nos contratos - e Henrique Gomes demite-se por não poder aceitar esta criatividade política à boa maneira dos líderes europeus. Esperamos não estar a fugir muito à verdade.

Veremos a criatividade de Passos Coelho em querer agradar a gregos e a troianos!

Nós aqui no Contas já temos um conjunto de sugestões para Passos "resolver" este problema: (esperamos que não leia):

1. Incluir o défice e a dívida energética na dívida pública;
2. Estipular aumentos das tarifas mais "suaves" ao longo dos próximos anos, aproximando gradualmente as tarifas aos custos totais com a produção de energia elétrica;
3. "Tentar" reduzir alguns custos com as rendas oferecendo outras contrapartidas aos chineses, nomeadamente a venda de outros monopólios a estes, como o das águas e esgotos, ou dos lixos, enfim!;
4. Pedir à troika que introduza no segundo resgate (que todos ainda o negam) mais dinheiro que permita acomodar esta dívida energética do passado "transformada" em dívida pública e alguma que ainda venha a subsistir enquanto não houver equilíbrio entre tarifário e custos de produção.

Quais as consequências nefastas deste tipo de decisões?
Aumenta-se a dívida pública mais uns milhares de milhão e adia-se para o futuro as verdadeiras reformas que deveriam estar já a ocorrer, nomeadamente a redução da produção e da subsidiação de energia eólica.

Tiago Mestre

Mais Moral Hazard - Espanha alivia metas do défice!

Espanha já não terá que cumprir 4,4% de défice público para 2012, conforme estava acordado. Rajoy "pediu" à UE que concedesse uma folga para que o défice seja de 5,8%. A UE percebeu a situação mas "pediu" à Espanha que afinal baixasse para 5,3%.

Ou seja, passa de 4,4% para 5,3%: uma diferença de 0,9% do PIB, ou aproximadamente 9 mil milhões de euros de diferença.

Este tipo de decisões são uma constante na UE. Nesta insane vontade de manter a coesão a tudo o custo, tem que ceder e declarar exceções para tudo e para todos.
Salva-se o dia de hoje, mas prejudica o dia de manhã. Sem argumentos para o futuro, a UE terá que autorizar aos outros países (caso o queiram) aquilo que autorizou a Espanha. E assim os desequilíbrios adensam-se, a moralidade perde-se e a autoridade passa a ser uma anedota. Aliás, a UE só conseguiu exercer alguma autoridade quando os países ficaram sem financiamento, na medida em que violaram sistematicamente os acordos de Maastricht e as regras básicas de responsabilidade orçamental, não tendo outra alternativa senão estenderem a mão à UE e à Alemanha.

Esta é a verdade da política da UE: gente que comete erros na conceção, sem coragem para reformar nem para defender princípios morais e éticos, persistindo em "resolver" erros com mais erros e trazendo cada vez mais incerteza às populações e ao regime democrático. MORAL HAZARD, meus caros.

Tiago Mestre

12 de março de 2012

A distribuição de terras pelo Estado à população já foi tentada em 1975. Convêm que a história não se repita desta vez.. (Conclusão)

Continuação do post anterior


11. Se estes assuntos não forem explicados a quem pretende investir, os terrenos não serão devidamente explorados e o investimento não se rentabilizará.

Suspeitamos que face às restrições e aos conhecimentos que a agricultura exige, estas terras serão tendencialmente arrendadas por quem já possui máquinas, ferramentas e explorações latifundiárias em zonas adjacentes. É muito difícil para um pequeno investidor obter os meios e gastar o dinheiro de forma produtiva num terreno que não é dele. E se o senhorio não possuir condições para investir, nomeadamente na captação de água, na transmissão de conhecimento e na gestão das terras por forma a promover economias de escala, dificilmente o pequeno investidor será auxiliado.

Se não se contrariar esta tendência "natural", estas terras servirão tendencialmente quem já é latifundiário, promovendo eventuais fenómenos de injustiça para com os "pequenos" e destruindo o espírito do projecto aquando da sua conceção. A não ser que estejamos enganados quanto ao cariz social desta política.

Tiago Mestre

A distribuição de terras pelo Estado à população já foi tentada em 1975. Convêm que a história não se repita desta vez.. (Parte 2)

Continuação do post anterior


4. Energia Eléctrica
Para uma exploração agrícola funcionar de forma produtiva, a energia eléctrica é muito importante. Com energia eléctrica é possível movimentar águas de um lado para o outro, automatizar regas, fornecer iluminação e garantir condições mínimas para o agricultor que passa várias horas por dia horas na propriedade.
A automatização da rega permite poupar muito tempo ao arrendatário, tornar a exploração mais rentável, adequar os períodos de rega às necessidades da cultura e muito importante, permitir a rega em período noturno. Como durante a noite as temperaturas atmosféricas e do terreno são mais baixas do que durante o dia, a água evapora em muito menor quantidade. Por outro lado, em culturas hortículas a rega por aspersor durante o dia provoca choques térmicos na folhagem, podendo atrair doenças para a cultura.

5. Adubos para enriquecer a terra
Existem muitos tipos de adubos. É preciso saber adequar o tipo de adubo em função dos terrenos, das culturas, do tipo de rega, etc. A gestão dos adubos requer bastante conhecimento para que o investimento não seja desperdiçado. Se no terreno estiver instalado um sistema de rega gota-a-gota ou de fita, os adubos líquidos que se misturam na água podem ser uma boa solução. Nesta questão é fundamental a ajuda de gente especializada

6. Mexer a terra periodicamente
As terras devem ser tratadas periodicamente. Preferencialmente devem ser fresadas/lavradas após o terminus da cultura e fresadas antes de se iniciar a semeadura. Se a terra não for mexida torna-se muito mais difícil trabalhá-la, sobretudo no acto da semeadura. Se a terra for do tipo barrenta e não for mexida, pode dar-se o caso de não ser possível trabalhar nela, de todo! Só com economia de escala fará sentido tratar das terras. Um trator e respetivas alfaias é um grande investimento para cada pequeno agricultor. Se o senhorio não gerir o processo, os investidores poderão facilmente abandonar as terras só por este motivo.

7. Doenças e respectivo tratamento
Para cada árvore de fruto, para cada hortícula e para cada cada tipo de terreno e zona, as doenças variam em toda a forma e feitio. É importante os arrendatários saberem que tipo de doenças mais comuns aparecem na zona e quais os tratamentos mais adequados. Também nesta matéria há muitas opções no mercado e para que o investimento não seja em vão é fundamental recorrer a pessoas com experiência na matéria.

8. Podar as árvores de fruto
A actividade de podar as árvores de fruto deve ser executada por pessoas especialistas na matéria. Podar é uma arte e não apenas cortar uns ramos aqui e acolá. esta atividade merece a maior atenção para que a árvore "rebente" com força na primavera.

9. Furtos
Se as propriedades não forem muradas ou vigiadas há grande probabilidade de ocorrerem furtos, sobretudo se o cultivo for de hortículas e tubérculos. Tais furtos inviabilizam o investimento e desmotivam o arrendatário. Para se murar é preciso muito investimento, e caberá ao senhorio efetuá-lo. Possuirá dinheiro para tal?

10. Agricultura biológica
Esta é uma área produtiva que exige ao investidor possuir conhecimentos sobre a agricultura convencional. Só depois de conhecer os limites das terras, das culturas, da água, da atmosfera, das curas e dos adubos é que se pode investir na agricultura biológica. Mais do que nunca, nesta área específica da agricultura, o conhecimento é fundamental.

Termina no próximo post


Tiago Mestre

A distribuição de terras pelo Estado à população já foi tentada em 1975. Convêm que a história não se repita desta vez.. (Parte 1)

Caros leitores e leitoras, temos ouvido da Ministra da Lavoura algumas afirmações na televisão sobre a distribuição de terras para quem se candidatar a arrendá-las.

A forma ligeira com que a afirmação está a ser passada cá para fora dá a sensação de que esta "coisa" de semear, plantar e colher é tarefa simples e acessível a qualquer um. Não é! E em jeito de conselho à Ministra, colocamos em 3 posts algumas questões que devem ser respondidas nos gabinetes do Ministério antes que saiam leis que depois não se adequam à realidade. (perdoem-nos a falta de modéstia)

As terras que estarão disponíveis para arrendar podem ser analisadas da seguinte forma:

1. Características fisico-químicas, de temperatura e de humidade do terreno, para se perceber o que é preferível semear:
Hortículas de ano inteiro - necessitam de água na primavera e no verão. Se há ocorrência de geada, apenas as couves e algumas espécies de alface aguentam.
Hortículas de primavera/verão como tomateiros, pepineiros, pimenteiros e feijão - não podem ter temperaturas frias de noite, necessitam de água em abundância
Tubérculos - necessitam de terras com humidade, e devem ser regados na primavera/verão;
Cenouras - necessitam de terras tendencialmente arenosas e não as do tipo barrento.
Cereais de sequeiro - necessitam de terras com humidade e que chova pelo menos na primavera
Cereais de inverno - necessitam de água durante o Inverno e Primavera
Morangos - necessitam de pouca terra (podem ser cultivados em estruturas tipo vasos ou recipientes). Devem ser regados na Primavera e no Verão.
Árvores de fruto para terras mais frias, como pereiras e kiwis - necessitam de água no inverno, na primavera. e no verão, sobretudo se forem árvores novas
Árvores de fruto para terras mais quentes, como laranjeiras, limoeiros, macieiras - necessitam de rega na primavera e no Verão.
Oliveiras - necessitam de água nos primeiros 2 anos de vida, sobretudo se for em terras mais arenosas que deixam escapar mais a água.

2. Grau de pluviosidade na região, linhas de água e lençois freáticos.
Para culturas menos exigentes de água, como o cereal (milho) de sequeiro, bastará saber as probabilidades de chuva para o trimestre da Primavera, e se a terra for boa a reter humidade (terras fortes, tipo barrentas) pode não haver necessidade de regar, tornando a cultura bastante eficaz e com custos muito baixos
Para culturas mais exigentes de água, como hortículas e árvores de fruto, é preciso saber onde se vai buscar a água, já que a água da rede pública não é a mais adequada. É preciso saber se há linhas de água perto, lagoas, barrancos, e caso não haja, ter-se que se optar por furo ou poço. Qualquer uma destas opções requer investimentos avultados, dificultando a execução deste tipo de culturas, sobretudo num sistema em que as terras são arrendadas, em que cabe ao senhorio realizar este tipo de investimentos.

3. Tipos de rega
Consoante a cultura e a dimensão da mesma, o tipo de terreno, o grau de pluviosidade da região e o acesso a água, deve-se adaptar o sistema de rega mais adequado e com menores custos.
Caso estes assuntos não sejam estudados, o pequeno arrendatário ver-se-á obrigado na sua ignorância a regar de forma manual, com regador ou com mangueira, tornando a sua cultura bastante cara e com um desaproveitamento enorme de água.

Rega de gota a gota é adequada para todo o tipo de árvores de fruto e tubérculos. Se o terreno for desnivelado ou o depósito de armazenamento de água estiver num ponto mais elevado, é possível regar sem recorrer a bomba eléctrica ou a gasolina, poupando nos custos de exploração. Este tipo de rega poupa muita água, contudo requer investimento inicial.

Rega com fita ou tubo perfurado é adequada para todo o tipo de hortículas, sobretudo as trepadeiras, como tomateiros, pepineiros, pimenteiros e feijão. Também é ideal para tubérculos. Se o terreno for desnivelado ou o depósito de armazenamento de água estiver num ponto mais elevado, é possível regar sem recorrer a bomba eléctrica ou a gasolina, poupando nos custos de exploração. Este tipo de rega poupa muita água, contudo requer algum investimento inicial.

Rega com aspersor é adequada para hortículas rasteiras, sobretudo as que "gostam" de receber água na folha, como alfaces, couves, abóboras ou courgettes. Necessita de água com pressão superior a 2-3 bar, exigindo maior consumo de água e bomba eléctrica ou a gasolina para garantir a pressão mínima do aspersor. Este tipo de rega não poupa muita água e requer investimento inicial avultado. Promove o aparecimento de ervas daninhas, exigindo ao produtor que faça monda manual ou monda química.

Rega com pivot serve grandes áreas de cultivo, como pasto e cereais de regadio. Apenas acessível a lactifundiários devido ao investimento e às grandes áreas de cultivo exigidos.

Continua no próximo post


Tiago Mestre

11 de março de 2012

Louça afirma que os empréstimos dos bancos gregos são mais baratos do que os dos portugueses. Humm!

Caros leitores e leitoras, numa notícia da SIC Notícias esta manhã, Francisco Louça informou a população portuguesa de que os empréstimos gregos possuem uma taxa de juro mais baixa do que os empréstimos portugueses. Não diz quanto, nem mesmo em termos médios, mas pior não explica as razões que possam estar por detrás.

O objectivo destas afirmações é dar a entender à população de forma velada que os bancos aproveitam-se mais em Portugal do que na Grécia, e que tal é "injusto" para o povo português, podendo assim o povo encontrar em Louçã o justiceiro e o verdadeiro zelador dos nosso direitos.
Para reforçar a mensagem, Louçã afirma que na Grécia as coisas estão muito pior do que em Portugal, nomeadamente ao nível do desemprego e portanto (concluímos nós) na Grécia os bancos até poderiam carregar mais nos empréstimos do que em Portugal. Não percebemos aonde Louçã quer chegar. Mas o que sabemos é o seguinte:

Há muitos meses que os bancos gregos vêem os depósitos desaparecerem, refletindo a necessidade da população recorrer às suas poupanças, e sobretudo retirar capitais para o estrangeiro.
Em Portugal, os depósitos têm aumentado, e se se lembram, até há pouco tempo havia publicidade na televisão a promover depósitos com taxas de juro muito, muito aliciantes. Tal fenómeno de remuneração elevada dos depósitos encarece naturalmente os empréstimos concedidos, na medida em que é na diferença que o banco ganha dinheiro.

Louçã esqueceu-se de referir que se taxas de juro mais altas nos empréstimos agravam a condição dos devedores, é porque os depósitos são mais bem remunerados, e se são mais bem remunerados, então estamos a favorecer aforradores e gente que poupa. E é exatamente este tipo de gente que deve ser apoiada porque país sem poupança é país sem capital para investir. Não podemos basear-nos apenas na "criação" de dinheiro pelos bancos através do sistema Fractional Reserve Lending, arte mágica que promove bancos maiores, com mais lucros mas muito mais frágeis e sujeitos a insolvência num abrir e fechar de olhos.

É preciso haver dinheiro parado (aforradores) para que os bancos peguem em parte (não muita) dele e o emprestem a quem não pode mas tem vontade.

Outro fenómeno que interfere com tudo isto são os empréstimos quase de graça que o BCE concede a todo o tipo de bancos, bons maus ou assim assim. Há anos que os bancos gregos dependem do financiamento do BCE, e não fosse esta manipulação grosseira do banco central, os bancos que supostamente emprestam a taxas de juro baixas já nem sequer existiam, dando lugar a outros que talvez favorecessem mais os aforradores gregos. Paralelamente, ficando os bancos gregos na mão do BCE, estes obtêm financiamento a 1%, e sem poderem recorrer aos depósitos (porque estão a desaparecer), acredito que façam empréstimos à população a 4, 5 ou a 6%, ficando com a diferença. Mas os portugueses voltaram-se há 1-2 anos para os depósitos como forma de obter mais solidez bancária e emprestar de forma mais segura, e tiveram que subir os juros para cativar depositantes. Ora, se remuneram os depósitos a 4, 5 e 6% como vemos todos os dias na televisão, parece-nos difícil que emprestem também a 4, 5 e 6%.
Acreditamos que o BCE também financia os bancos portugueses, e por aí estes até podem aliviar os juros cobrados, mas não acreditamos que isso faça muita diferença.

Moral da história:
Na Grécia os depósitos desaparecem por cada dia que passa, e os bancos voltaram-se exclusivamente para o BCE, que empresta a 1%.
Em Portugal a orientação dos bancos foi de captar depósitos e financiarem-se o menos possível no BCE, e com isso a taxa de juro para os empréstimos teve inevitavelmente de subir.

Para atrapalhar mais a situação, os bancos portugueses e presumimos que os gregos também registaram prejuízos recorde, tornando a vida dos banqueiros mais difícil e sujeitando-os a decisões que tendencialmente resvalam para cobrar juros e comissões para tudo e mais alguma coisa cada vez mais elevados.

Louçã, se quer informar a população sobre opiniões formadas na sua mente, deve dar o contexto, a informação e as conclusões de forma desassombrada. Ele (como nós), não tem que ser nem a favor de uns bancos nem contra outros. Basta apresentar os números e a informação estatística, fazendo jus à sua reputação de economista, e não de político à caça de mais uns votos.

Já agora, sugerimos a Louçã que reflita sobre esta forma de fazer política, não tanto pelo plano moral, que esse já nem discutimos, mas pelo simples facto que a população já não está para o aturar com estas atordoadas informativas, como se viu nas últimas eleições.
Algum pragmatismo para o economista que se tornou político não lhe fará mal certamente!

Tiago Mestre

10 de março de 2012

ISDA pronuncia-se... pelo incumprimento

Caros leitores e leitoras, sobre as obrigações que não foram sujeitas a troca, a ISDA pronunciou-se pelo incumprimento, ou seja, a Grécia não pagará 1 cêntimo sobre estas obrigações mas os emissores dos CDS terão que pagar as indemnizações aos investidores.

Esta decisão recai sobre um montante de 25 mil milhões de euros de obrigações. Aguardamos pelas reacções dos mercados a esta notícia.
Muitos bancos europeus emitiram CDS a investidores, e certamente que alguns destes terão que indemnizar os clientes. Talvez haja liquidez para o fazer, graças ao programa LTRO 1 e 2 do BCE, mas veremos se há capital próprio para cobrir estas perdas.

Tiago Mestre

9 de março de 2012

E termina a troca de obrigações gregas velhas por novas...

Caros leitores e leitoras, terminou ontem o prazo para a troca de obrigações velhas por novas que a Grécia "sugeriu" aos seus credores privados. Notícia Zerohedge

Aqui no Contas tínhamos a opinião de que a aceitação não seria em massa. Bom, o sentimento é misto:

Para as obrigações que foram emitidas pela lei grega, a aceitação foi de 85%
Para as obrigações que foram emitidas pela lei (uk law), a aceitação foi de 69%.
O prazo para a troca destas obrigações uk law ainda está em vigor, terminando a 23 Março (uma novidade para nós.)

Com estas percentagens estamos na dúvida se a troca foi um sucesso ou não, pelo que aguardamos mais desenvolvimentos sobre o caso.

Os credores que possuem obrigações sob a alçada da lei grega e que não aceitaram a troca (15%) correspondem a 25 mil milhões euros aproximadamente. Para estes, a entidade que gere os CDS, a ISDA (International Swaps and Derivatives Association) determinará hoje em comunicado se ocorreu um credit event ou não, e com isso saber-se-á se os seguros CDS poderão ser ativados.
Não temos ideia do que a ISDA irá dizer, tal é a complexidade de toda esta situação e do conflito de interesses a que a ISDA está sujeita.
Se por um lado a Grécia já disse que não pagará um cêntimo destas obrigações velhas, e por aí a ISDA deveria declarar incumprimento, por outro, a Grécia ofereceu este pacote de troca de obrigações aos credores com perdas de 70%,  mas estes voluntariamente não o aceitaram, podendo a ISDA ir por aí e referir que não se pode declarar incumprimento. Aguardamos pelo veredicto.

Tiago Mestre

7 de março de 2012

Augusto Santos Silva surpreende-nos pela positiva!

Caros leitores e leitoras, não sendo nós aqui no Contas apreciadores de escrita sobre a actualidade política portuguesa, até porque inúmeros blogs já o fazem de forma competente, não podemos deixar de referir a relevância para o jornalismo português das intervenções de Augusto Santos Silva, ex-ministro do governo anterior, sobre a actualidade política.

Temo-lo ouvido com atenção no canal de cabo TVI24, e as suas explicações e pareceres revelam uma capacidade de análise substantiva sobre os assuntos em causa que muito nos agrada. António José Seguro não se aproxima sequer desta postura e, na nossa opinião, fica a perder.

Hoje, Augusto Santos Silva explicou a falácia noticiosa que esteve no espaço mediático português durante algum tempo em que se referia que os custos da empresa Parque Escolar eram 400% mais elevados do que inicialmente planeado. Faltou explicar a quem produziu a notícia de que os custos que serviram de base refletiam apenas remodelações e "arranjos" aos edifícios existentes. Todos sabemos que as obras realizadas foram muito mais estruturais, com a construção de novos espaços (não lhe chamamos equipamentos por não concordarmos com o termo), como bibliotecas e a reestruturação profunda de outros. A tal derrapagem de 400% não pode ser tida em conta porque estamos a comparar "alhos com bugalhos".

Mais, Augusto Santos Silva deixa bem claro que este tipo de notícias são produzidas e gizadas pela máquina mediática social democrata, inferindo-se que há ingerência que se pode considerar "escandalosa" da máquina social democrata dentro dos jornais e outros.

Pior, Augusto Santos Silva conclui que este tipo de notícias servem apenas para descredibilizar a empresa Parque Escolar e o seu projeto, no sentido de legitimar o governo a alterar/suspender o programa a seu bel-prazer, evitando ter que informar a população que afinal tais decisões são opções políticas deste governo, mas antes porque o programa Parque Escolar é "mau" financeiramente e portanto alguma coisa terá que ser feita.

Feio, esquisito e difícil de acreditar. Custa-nos a aceitar que Passos Coelho saiba e corrobore com este tipo de manipulação informativa tão descarada.

Marinho e Pinto, bastonário da ordem dos advogados, alertava em meados de 2011 que certas notícias nos jornais só podiam provir da máquina mediática social democrata, na medida em que algumas delas incidiam sobre assuntos em que ele participava de forma direta, como no caso das custa judiciais, e espantava-se com a manipulação da informação em favorecimento do governo. Agora compreendemo-lo perfeitamente..

Tiago Mestre

6 de março de 2012

QREN, Álvaro o idílico, e Gaspar o quotidiano

Caros leitores e leitoras, o QREN volta para as Finanças, não porque Gaspar deseja essa pasta, mas porque essa pasta exige dinheiro, a saber:

O QREN financia-se 85% na Europa e 15% em Portugal, ou seja, em Gaspar. Por cada milhão de investimento, o estado português tem que entrar com 150 mil euros. E aonde se vai buscar o dinheiro? Até há 1 ano ia-se ao BEI (Banco Europeu de Investimento). Hoje não se vai a lado nenhum porque não há margem de manobra. E é isso que Gaspar quer tentar travar: o aumento da despesa e do endividamento para cumprir o défice que está inscrito no programa da troika.

Não é difícil perceber que em função desta explicação a pasta do QREN não pode ficar sob a tutela exclusiva do Ministério da Economia. É natural que seja este ministério a mexer os cordelinhos, mas quem diz se há guito ou não são as Finanças. Ponto final.
Pelo meio perde-se o Álvaro, um moço que nos parece de boa índole, novinho, mas triturado na máquina mediática.

Tiago Mestre

Quem sabe, sabe, e o BCE é que sabe! (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, informámos a 29 de Fevereiro de que achávamos difícil que o programa de financiamento do BCE aos bancos privados, denominado LTRO, tivesse algum impacto na concessão de crédito à economia, apesar de que era essa a principal intenção dos "manipuladores" Draghi e Constâncio, a par da aquisição de dívida soberana.

Numa notícia de ontem da edição online do Económico, o Banco de Portugal divulgou a informação de que a concessão de crédito pelos bancos portugueses à economia portuguesa desceu na globalidade, e em percentagens superiores a 20%. Só no crédito à habitação a queda é de 46% de Janeiro 2012 face a Dezembro 2011.

Não nos espanta esta situação porque temos a noção de que o dinheiro que o BCE emprestou a 3 anos aos bancos será para tratar da vida dos próprios bancos, e não da vida da economia. Os bancos estão à procura de mercados que lhes garantam a maior retorno possível de investimento com o máximo de segurança nesse retorno. Não acredito que seja na concessão de empréstimos a pessoas sobrendividadas e a empresas sem capitais próprios e sem rentabilidade que os bancos irão fazer negócios em 2012 e em 2013. A economia que se aguente.

Por outro lado, é nossa convicção de que as economias portuguesa e europeia já possuem dinheiro emprestado a mais para as suas operações diárias. Não precisamos de mais dinheiro emprestado, precisamos sim de empresas e de cidadãos que poupem mais. E como é que isso se consegue? Os cidadãos poupam aplicando o dinheiro no banco ou investindo em bens que considerem valorizáveis no futuro. As empresas devem usar todo o lucro que obtêm da atividade corrente para gerar capitais próprios, aumentar capitais sociais, liquidar dívida e investir dentro da empresa.

Os empresários viveram muito acima das suas possibilidades com esta asneirada das empresas darem lucro mas estarem permanentemente a pedir mais dinheiro aos bancos. A empresa tem que crescer mais com o lucro gerado internamente e não no suposto alavancamento bancário. Fernando Ulrich, alguém que até nos merece algum respeito, vem afirmar também este pressuposto numa notícia da edição online do Económico.

Se os bancos cortarem o crédito às empresas, os empresários terão que abusar menos dos lucros para as suas fantasias pessoais e verão que o negócio terá que ser rentável por ele mesmo e o financiamento deverá vir da riqueza produzida internamente. Os bancos podem sempre ajudar, mas não deve passar disso mesmo. Quem arrisca é sempre o empresário porque incorpora deveres nos estatutos da sociedade, e não a entidade bancária.

Se assim o for, os empresários serão obrigados imediatamente a subir as margens de rentabilidade do negócio, na medida em que o fundo de maneio que outrora fora garantido pela concessão de crédito reduz-se e terá que ser a tesouraria interna da empresa a viver dentro das suas possibilidades. Como era antigamente...
As empresas ficariam muito mais sólidas, os postos de trabalho muito mais garantidos e as perspectivas de suportar embates em momentos críticos muito mais otimistas. A inflação teria que aparecer como consequência negativa destes ajustes macroeconómicos, mas tal é uma inevitabilidade na medida em que os preços ainda reflectem todo este esmagamento de rentabilidade que ocorreu nas empresas devido à concessão de empréstimos para financiar tesouraria e financiar "supostos" lucros aos acionistas.

Tiago Mestre

5 de março de 2012

Todos ouvimos dizer que desvalorizar moeda significa mais exportações e mais economia... humm! Será?

Caros leitores e leitoras, é sabedoria convencional na nossa praça de que países economicamente mais fracos devem coabitar com moedas mais fracas. E a razão para tal fenómeno é que uma moeda mais fraca significa maior incentivo às exportações e maior estímulo ao turismo estrangeiro, assim o dizem!

Já é tempo de desmistificar este conceito:

1. Quando a moeda desvaloriza conseguimos vender mais barato, mas também temos que comprar mais caro.
2. A maioria dos nossos exportadores necessita de comprar matéria prima e energia ao estrangeiro, à exceção de quando a matéria prima é proveniente do setor primário endógeno (agricultura, pescas e minério).
3. Os restantes exportadores necessitam de comprar matéria prima e energia ao exterior, logo a vantagem de vender mais barato é neutralizada pelas importações mais caras.
4. Desvalorizar moeda significa inflação e pouca segurança para quem quer investir. A médio prazo haverá menos investidores.
5. A desvalorização da moeda estimula os industriais a tentar vender mais para fora e menos para dentro, prejudicando os consumidores nacionais na medida em que terão que competir por menos produtos e logo mais caros - mais dinheiro do que bens à disposição da economia - inflação.
6. Outra consequência da manipulação monetária prende-se com a fuga de capitais para o estrangeiro. Quando os políticos imprimem dinheiro e manipulam moeda influenciam negativamente a espetativa dos investidores, obrigando-os a fugir do país.

No gráfico abaixo mostramos um gráfico que reflete a falácia destas supostas vantagens na desvalorização monetária:

As moedas que assumem trajetórias descendentes perderam poder de compra para com o exterior, ou seja, compram cada vez menos ao exterior para o mesmo valor de exportação. Moedas como o dólar americano, o euro, o iene japonês e o yuan chinês fazem parte deste clube, e todos sabemos o que têm feito os bancos centrais destes governos: desvalorizar para (supostamente) ganhar competitividade.

Curiosamente temos um exemplo extraordinário de um país que manteve uma moeda forte e consolidada durante décadas e conseguiu suportar taxas de crescimento do PIB acima de 6% ao ano e crescer muito em exportações: PORTUGAL na década de 50 e 60.

É verdade, Portugal era considerado um caso de disciplina financeira, orçamental e monetária, que muito agradava a investidores estrangeiros. Os finais da década de 60 e inícios de 70 foram anos de grande injeção de capitais estrangeiros em Portugal, tanto no setor industrial como imobiliário. A reserva de ouro, acumulada no Banco de Portugal ao longo de décadas e que suportava as notas em circulação, tornava o escudo uma moeda verdadeiramente à prova de bala e muito apetecível a quem queria investir no país.

Sempre que ouvirem economistas a insistir na desvalorização da moeda para se ganhar nas exportações pensem duas vezes antes de concordar com a ideia!

Tiago Mestre

A Grécia mais uma vez , claro!

Caros leitores e leitoras, esta semana serão anunciados os resultados da operação de troca de obrigações velhas por novas com perdas reais acima de 70% para os subscritores da operação.

As "más línguas" já dizem que poderá não haver investidores suficientes a subscrever. Como nós os compreendemos!

A notícia de quinta-feira passada de que a ISDA não assumirá esta troca de obrigações como um Incumprimento deve ter deixado os investidores que detêm CDS com os cabelos em pé.
A decisão influencia os investidores que possuem obrigações gregas e CDS gregos que protegem essas mesmas obrigações a não participarem nesta troca.

Ao aceitarem ficam duplamente prejudicados:
assumem as perdas de 70% na troca;
e não recuperam o que investiram nos CDS.

Mau negócio. O melhor é esperarem que a Grécia declare mesmo um incumprimento de 100%, aí talvez os CDS possam ser ativados. Perder por cem, por mil...

Vamos ver quem é mais teimoso! Típico de guerrinha entre homens
Tiago Mestre

4 de março de 2012

EUA - exemplo fiscal para ninguém

Já não é segredo para ninguém de que a saúde fiscal dos EUA apresenta problemas graves de sustentabilidade.

Com as últimas informações que temos, as contas públicas dos EUA estão totalmente insolventes, e só não colapsa a sua liquidez porque há muita gente (parolos) a comprar dívida americana todo o santo dia.

De acordo com o site ZeroHedge, blog que se dá ao trabalho de fazer contas e de apresentar previsões, fomos hoje informados de que para o ano fiscal de 2012 o estado americano vai pedir mais dinheiro emprestado do que aquele que recebe por via dos impostos. É verdade. Esta deterioração fiscal só se assemelha com o Japão. Para terem uma noção de escala, Portugal costuma ter 65 mil milhões de euros em receitas fiscais e endivida-se entre 10 a 15 mil milhões ao ano.

Os Estados Unidos como país com o maior PIB do mundo (15 triliões dólares) está atualmente numa posição vergonhosa de indisciplina orçamental. Pode dar-se ao luxo comprar um dia de cada vez porque (irracionalmente) existem ainda milhares de investidores a comprar as obrigações do tesouro que são emitidas pelo Tesouro norte-americano. O dólar está a ser destruído diariamente porque ninguém quer prometer austeridade aos americanos. Barack Obama tem sido o evangelista de toda esta farsa política, e prevê-se que em ano de eleições, como será 2012, as despesas baterão novos recordes. Alguns dados:

EUA
PIB: 15 triliões dólares
Dívida: 15,4 triliões
Rácio da dívida face ao PIB: ligeiramente acima de 100% do PIB
Défice anual: 1,3 triliões de dólares

Endividamento de 1 Janeiro 2012 até agora: 710 biliões
Receitas de 1 Janeiro 2012 até agora: 607 biliões

Nesta condição a Grécia está bem melhor do que os EUA. Mas tudo depende da escala e do (ainda) poder dos impérios decadentes do ocidente.

Quando vêm economistas americanos laureados e outros dizer o que se deve fazer na Europa e em Portugal para resolverem os seus problemas, simplesmente não lhes liguem. tratem primeiro de arrumar a sua casa, só depois têm credibilidade para falar da casa dos outros.

Tiago Mestre

1 de março de 2012

Houston, we have a problem!

Problemas na Arábia Saudita. Um oleduto na zona leste foi bombardeado, fazendo os preços do petróleo subir alguns dólares num espaço de 2 horas. O preço do barril de Brent em EUR já deve estar perto dos 97 euros, um recorde absoluto, presumimos nós.

Notícia aqui

Tiago Mestre

ISDA - acrónimo a reter (Parte 3)

Está decidido!

ISDA não considera como incumprimento a troca de obrigações gregas velhas por novas, mesmo que tal operação produza perdas reais de mais de 70% para os investidores visados.

No comment!

Notícia do site ZeroHedge

Tiago Mestre

Inflação ou Deflação?

Caros leitores e leitoras, com a ajuda do Eurostat e do Financial Times é possível perceber qualquer coisa sobre esta história da inflação e da deflação nos tempos que correm.

O gráfico mostra a criação de dinheiro na zona euro, tanto pelo BCE (M3) como pelos bancos privados, sob a forma de crédito. Esta "criação" de dinheiro pode ser feita de duas maneiras:
Ou por "Fractional Reserve Banking", que permite ao banco mostrar o mesmo dinheiro duas vezes, de um lado como sendo emprestado à pessoa X, do outro como sendo um depósito da pessoa Y.
Ou pelos bancos centrais, que imprimem dinheiro para emprestar aos bancos.


Se a economia prospera significa que há mais transacções e em maior volume, logo a expansão monetária tende a aumentar através dos 2 mecanismos anteriormente descritos para dar suporte a essa prosperidade. Desta forma tenta-se equilibrar a quantidade de dinheiro com a quantidade de bens postos à disposição da economia.
Mas nem sempre é assim. Se por acaso houver mais recursos que dinheiro, o preço desses mesmos recursos tenderá a descer - deflação. Se for ao contrário, mais dinheiro que recursos, o preço tenderá a subir - inflação.

No gráfico percebe-se que até inícios de 2008 os bancos privados europeus e o banco central europeu (M3) trabalharam a todo o vapor. Emprestavam ano após ano 8 a 14% mais do que ano anterior. Esta taxa era bem superior à taxa de crescimento da economia, que não ultrapassava os 3 a 4%, criando as raízes para o aparecimento da inflação. Toda esta bebedeira financeira estava fortemente ligada às baixas taxas de juro que os bancos centrais mantiveram durante alguns anos, nomeadamente a Reserva Federal e o BCE, como forma de forçarem as economias a crescer pela abundância de crédito. Ainda hoje a sabedoria convencional trata este assunto da mesma forma - é preciso crédito fácil e barato para a economia crescer. Já deveriam ter percebido nesta altura que o processo é inverso - só com a economia a prosperar é que o crédito pode avançar.

Todos estes estímulos "keynesianos" que jorraram durante anos acabaram por colocar as economias recessivas sob ainda maior stresse. Porquê?
Porque os recursos oferecidos à economia não aumentaram de sobremaneira ou se calhar até reduziram, mas o dinheiro para os adquirir cresceu numa proporção desmedida. Resultado:
Dinheiro a mais para recursos a menos - inflação.

Esse "muito" dinheiro de que estamos a falar continua hoje a ser criado mas em muito menor quantidade, na medida em que os bancos desconfiam muito mais uns dos outros e as economias ocidentais teimam em não arrancar. O facto relevante no meio disto tudo é que o dinheiro já não "transpira" para a sociedade, ou seja, não se revela sob a forma de aumento de salários, aumento de emprego e por aí fora. E porquê? Porque os banqueiros obtêm o dinheiro do BCE, que é a única instituição disposta a emprestar sem contrapartidas, mas em vez de "entregarem" o dinheiro nas economias preferem investir em ações, em petróleo, em dívida soberana (sobretudo a alemã) e noutros produtos financeiros mais ou menos arriscados. O gráfico evidencia bem este fenómeno de contração do crédito, sobretudo a partir de 2008.
E assim ficamos nesta situação em que as populações vêm o seu poder de compra duplamente reduzido, tanto pelo não aumento de salários, como pelo aumento generalizado dos preços dos bens de primeira necessidade, que foram objeto de manipulação pelos banqueiros nos grandes mercados internacionais

Mesmo assim, ainda há economistas que afirmam que havendo recessão e deflação, não há grande mal em imprimir dinheiro para compensar essa quebra. Infelizmente a realidade mostra-nos que com a contração do consumo ocorre também... a contração na produção. Por exemplo, se há menos gente a "consumir" petróleo, é natural que as refinarias baixem a sua produção, ou então se há menos consumo de hortaliças, é natural que os produtores reduzam a sua produção. Até é plausível que o primeiro passo dos empresários seja baixar preços para tentar manter os níveis das vendas, reduzindo margens e custos de produção. Mas se o consumo continuar a cair mesmo com abaixamento de preços, não há outra hipótese senão reduzir produção, despedir pessoal e no extremo declarar falência. Passando a haver menos produtos no mercado o preço tenderá a subir. Se os produtos desaparecem a uma taxa maior do que o dinheiro que os persegue, o preço dos mesmos terá que subir.

Desta forma percebe-se que é possível ter em simultâneo inflação e recessão económica, sobretudo se a expansão monetária for uma realidade, o que é o caso actual.
A própria inflação é inimiga do crescimento económico, na medida em que promove contração do consumo e logo de seguida contração na produção. Parece um ciclo vicioso.

Os dados publicados pelo eurostat esta semana dizem-nos que a par da recessão que se vive na periferia europeia a inflação teima em não descer para níveis compatíveis:


Portugal continua com uma inflação de 3,4%, mesmo com toda a quebra que houve no imobiliário, no consumo privado e no público. Inclusivamente a inflação subiu 0,3 por cento de Dezembro 2011 para Janeiro 2012, conforme se percebe pela última coluna.

Mas veja-se o caso da Grécia:
Recessões sucessivas desde 2008;
Contração total do PIB já de quase 20%;
Desemprego bem acima dos 20%;
... e continua com uma inflação de 2%!!
Não fossem os estímulos financeiros que o BCE dá e há muito que este país tinha entrado em deflação. Ao menos os gregos veriam os preços dos bens a baixar, o que já era uma ajuda para compensar a queda dos salários e dos subsídios de desemprego.

Se a impressão de dinheiro aumentar e se os bens à disposição da economia encolherem, a inflação continuará a existir.
Caso a impressão de dinheiro se torne massiva e os bens cada vez mais escassos, aí podemos caminhar para a hiper-inflação. Veremos em que ponto é que os políticos param, se é que pararão em alguma circunstância.

Como esta impressão de dinheiro é um fenómeno à escala planetária, pouco pode fazer o "Portugal dos pequenitos". Mas ficar calado e aceitar este estado de coisas é que é imperdoável.

Tiago Mestre

Democracia a la carte

Não temos nada contra estes senhores, aliás, até é bem possível que desempenhem um melhor serviço do que os democraticamente eleitos, mas... e a democracia? À boa maneira europeia, mantêm-se a fachada e remodela-se o interior sem pedir autorização a ninguém. É o desespero a comandar. O problema não é tanto a ação, mas o precedente que se cria. Qualquer líder europeu que vá contra a sabedoria convencional europeia e dos seus paladinos já sabe o destino que lhe espera! Esta gente é mais perigosa do que se julgava..








Tiago Mestre

ISDA - acrónimo a reter (Parte 2)

Hoje será decidido pela ISDA se o incumprimento grego será declarado como "incumprimento formal".

Se for, os contratos CDS poderão ser reclamados junto dos emissores desses contratos (grandes bancos de Wall Street)

Se não for, os contratos CDS não poderão ser reclamados junto dos emissores, ficando os compradores dos CDS a "lerpar" com todo este negócio fraudulento.

Aqui no Contas inclinamo-nos para um NÃO como justificámos no post de 27 Fevereiro, contudo o nosso desejo é que o SIM vença.

Se o SIM ganhar pode criar desde já um terramoto financeiro, mas quem luta e aspira pela verdade, pelo rigor dos princípios e pela retidão no comportamento não deve recear as consequências de escolher o caminho mais difícil. Só assim se salvará do lamaçal moral em que o mundo se atascou.

Se o Não ganhar compram-se mais uns meses, negócio que a elite política tem sabido efetuar frequentemente e com grande mestria.

Tiago Mestre