21 de março de 2012

Com o boletim de síntese orçamental de Fevereiro de 2012 fica-se a perceber muita coisa!

Caros leitores e leitoras, vivemos momentos cruciais nas finanças portuguesas, sobretudo para quem acredita que somos mais parecidos com a Irlanda do que com a Grécia.

Não somos parecidos nem com uns nem com outros, mas aos olhos dos investidores internacionais estamos bem mais próximos da civilização helénica do que da cultura celta. É assim que nos vêem, e pouco adianta papaguear marketing político no circo europeu de que "não somos a Grécia"..

É o nosso passado cultural que nos pode ajudar a identificar aquilo que verdadeiramente somos. O resto são opiniões de gente mais ou menos ignorante.

Mas falando em números, Fevereiro de 2012 fica para a história desta legislatura como um mês em que o fardo da dívida se revelou o maior inimigo do governo e dos portugueses.

O Estado teve que pagar em Fevereiro de 2012 a módica quantia de 427 milhões de euros em juros e encargos com a dívida. No mesmo mês do ano passado esse valor não ultrapassou os 150 milhões de euros.
Para 2012 o governo estima que os juros a pagar sobre a dívida pública ascenderão a 9 mil milhões de euros, portanto os 427 milhões de euros de Fevereiro, e os 134 milhões de Janeiro são apenas um pequeno aperitivo para o que aí vem: a maior drenagem de riqueza para o exterior a que Portugal já assistiu na sua história.

A somar a esta variável da equação temos a receita e despesa públicas:

Fonte: DGO

Receita: 6259 milhões em Fev2012 contra 6541 milhões em Fev2011. Menos receita este ano, apesar de que ainda faltam as "novas" receitas provenientes do aumento do IVA em alguns produtos, e que só deverão entrar a sério a partir de Abril. Mas acreditamos que isso não fará uma diferença substancial.

Despesa: 7057 milhões em Fev2012 contra 6816 milhões em Fev2011. Mais despesa este ano, O aumento dos juros (+263 milhões) quase que neutralizou toda a redução de despesa que o governo tem conseguido efetuar (-327 milhões). As transferências para a RTP (superiores a 300 milhões), consideradas como despesa, foram o prego que faltava no caixão do mês.


Isto é verdadeiramente um problema, e dos grandes, porque a governo transmitiu à população portuguesa que este esforço valeria a pena, e que após a tempestade lá teremos o direito à bonança!

Fevereiro foi uma espécie de anti-clímax para o governo, em que tudo o que sugeriu durante meses à população portuguesa que iria acontecer se revelou exatamente no seu contrário.

Quando se fala demais e não se tem a certeza do que se está a dizer, pode-se virar o feitiço contra o feiticeiro. É por estes motivos que a população se farta dos seus políticos e os governos caem sucessivamente. Gerem mal a verdade julgando que gerem muito bem a informação.

Começámos a 14 Julho de 2011 por explicar a farsa que era a história (na altura) de que a austeridade tinha pouca influência no PIB. Mês após mês o logro foi-se desmistificando e hoje, em Março de 2012, temos a correlação entre austeridade e recessão em todo o seu esplendor.
O próprio BCE veio ontem referir que Portugal poderá sofrer uma recessão de 5% em 2012!! Oops

Sugerimos aos novos seguidores do Contas que leiam os nossos posts intitulados "A matemática costuma ganhar, às vezes tarde demais", publicados em Outubro de 2011.

Tiago Mestre

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