6 de março de 2012

Quem sabe, sabe, e o BCE é que sabe! (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, informámos a 29 de Fevereiro de que achávamos difícil que o programa de financiamento do BCE aos bancos privados, denominado LTRO, tivesse algum impacto na concessão de crédito à economia, apesar de que era essa a principal intenção dos "manipuladores" Draghi e Constâncio, a par da aquisição de dívida soberana.

Numa notícia de ontem da edição online do Económico, o Banco de Portugal divulgou a informação de que a concessão de crédito pelos bancos portugueses à economia portuguesa desceu na globalidade, e em percentagens superiores a 20%. Só no crédito à habitação a queda é de 46% de Janeiro 2012 face a Dezembro 2011.

Não nos espanta esta situação porque temos a noção de que o dinheiro que o BCE emprestou a 3 anos aos bancos será para tratar da vida dos próprios bancos, e não da vida da economia. Os bancos estão à procura de mercados que lhes garantam a maior retorno possível de investimento com o máximo de segurança nesse retorno. Não acredito que seja na concessão de empréstimos a pessoas sobrendividadas e a empresas sem capitais próprios e sem rentabilidade que os bancos irão fazer negócios em 2012 e em 2013. A economia que se aguente.

Por outro lado, é nossa convicção de que as economias portuguesa e europeia já possuem dinheiro emprestado a mais para as suas operações diárias. Não precisamos de mais dinheiro emprestado, precisamos sim de empresas e de cidadãos que poupem mais. E como é que isso se consegue? Os cidadãos poupam aplicando o dinheiro no banco ou investindo em bens que considerem valorizáveis no futuro. As empresas devem usar todo o lucro que obtêm da atividade corrente para gerar capitais próprios, aumentar capitais sociais, liquidar dívida e investir dentro da empresa.

Os empresários viveram muito acima das suas possibilidades com esta asneirada das empresas darem lucro mas estarem permanentemente a pedir mais dinheiro aos bancos. A empresa tem que crescer mais com o lucro gerado internamente e não no suposto alavancamento bancário. Fernando Ulrich, alguém que até nos merece algum respeito, vem afirmar também este pressuposto numa notícia da edição online do Económico.

Se os bancos cortarem o crédito às empresas, os empresários terão que abusar menos dos lucros para as suas fantasias pessoais e verão que o negócio terá que ser rentável por ele mesmo e o financiamento deverá vir da riqueza produzida internamente. Os bancos podem sempre ajudar, mas não deve passar disso mesmo. Quem arrisca é sempre o empresário porque incorpora deveres nos estatutos da sociedade, e não a entidade bancária.

Se assim o for, os empresários serão obrigados imediatamente a subir as margens de rentabilidade do negócio, na medida em que o fundo de maneio que outrora fora garantido pela concessão de crédito reduz-se e terá que ser a tesouraria interna da empresa a viver dentro das suas possibilidades. Como era antigamente...
As empresas ficariam muito mais sólidas, os postos de trabalho muito mais garantidos e as perspectivas de suportar embates em momentos críticos muito mais otimistas. A inflação teria que aparecer como consequência negativa destes ajustes macroeconómicos, mas tal é uma inevitabilidade na medida em que os preços ainda reflectem todo este esmagamento de rentabilidade que ocorreu nas empresas devido à concessão de empréstimos para financiar tesouraria e financiar "supostos" lucros aos acionistas.

Tiago Mestre

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