4 de abril de 2012

ESPANHA E PORTUGAL - IRMÃOS IBÉRICOS

Caros leitores e leitoras, se hoje Portugal recorreu aos mercados de dívida e lá conseguiu obter umas massas, o mesmo não se pode dizer da Espanha.

Portugal endividou-se com bilhetes do Tesouro, papel que apresenta muito menos risco por possuir maturidades curtas e por se considerarem como estando fora de possíveis reestruturações/incumprimentos.

Os bilhetes de Tesouro da Grécia, por exemplo, não foram incluídos na reestruturação. As obrigações essas sim, é que foram reestruturadas.

Além disso, as maturidades em que Portugal se endividou (6 e 18 meses) estão cobertas pela maturidade a 3 anos do mega-empréstimo LTRO de quase 900 mil milhões de euros que o BCE concedeu aos bancos privados, sobretudo os de países periféricos.

Imaginem lá quem anda a comprar obrigações portuguesas? Os bancos privados portugueses.
E com que dinheiro? do LTRO, obviamente.

O negócio é espetacular para os bancos: endividam-se a 1% junto do BCE e emprestam ao estado português a 4,5 ou 6%, dependendo da maturidade.

Mas à Espanha calhou outra sorte. O leilão de dívida que hoje realizou englobava Obrigações do Tesouro e não Bilhetes do Tesouro. Além disso, as maturidades eram superiores a 3 anos, ou seja, superiores à do LTRO. Ooops, nestas condições os investidores espanhóis já pensam 2 vezes.

Resultado:
Dos 3,6 mil milhões de euros colocados a leilão, apenas 2,6 mil milhões foram vendidos. As taxas de juro subiram quase 1 ponto percentual (de 3,4 para 4,3%) nas obrigações com maturidade a 4 anos, face ao leilão anterior com a mesma maturidade.

O que se fica a perceber disto tudo?
Que o dinheiro injetado pelo BCE nos últimos meses foi uma manipulação grosseira, como já várias vezes referimos aqui no Contas, e que como em qualquer manipulação, surte um efeito positivo durante algum tempo, como uma droga, mas mais cedo ou mais tarde chega o dia da verdade.

Aparentemente em Espanha, o dinheiro "quente" do LTRO que serviu de mecanismo de liquidez no sistema durante estas semanas está a esgotar-se, e a ser verdade tal suposição, voltamos à vaca fria com que nenhum líder político quer lidar e que urge a todo o custo adiar:
A falência do sistema bancário e do Estado como instituição soberana devedora.


Se a Espanha se tornar este Verão no epicentro dos problemas da dívida soberana,  talvez essa seja a melhor oportunidade para Portugal se juntar e delinearem uma saída ordeira da UE, com moeda eventualmente ibérica (a discutir), igualdade de tratamento na saída dos acordos da UE, dissolução dos encargos financeiros para com o BCE e criação de um bloco ibérico que permitisse a afirmação de políticas conjuntas na área da agricultura, pescas, reestruturação da dívida, etc, etc.

Acima de tudo, livrar-nos-íamos do jugo político europeu e da sua ignorância para com a nossa cultura secular. Podemos ser diferentes dos espanhóis, mas em escala essa diferença não se compara com o povo germânico, celta, ou escandinavo.

Num ápice teríamos a Grécia e a Itália a fazer-nos companhia. Seria o fim da UE tal e qual como a conhecemos e dessa forma estancávamos esta hemorragia que se chama:

1. Drenagem de riqueza do país A (sul da Europa) para o país B (norte da Europa) por causa dos juros que temos que pagar;
2. Aquisição de ativos "tóxicos" pelo país credor B ao país devedor A, nomeadamente obrigações soberanas e empréstimos a bancos. Fenómeno que já deixa os governadores do Bundesbank com os cabelos em pé!

Este mecanismo de suposta "solidariedade" europeia é uma das maiores aberrações políticas/planeamento centralizado/keynesianismo que jamais alguém concebeu nesta vida e na outra. São 500 milhões de pessoas a serem comandadas por políticas gizadas nos gabinetes de meia dúzia de burocratas que se reúnem a cada 15 dias. Como podem eles conhecer todos os aspectos de todas as culturas e de todas as sociedades que compõem os 27 países da UE? Como não podem, é-lhes impossível ajuízar e legislar corretamente, e daí todas estas asneiras, como o tratado de Lisboa, as políticas agrícolas comuns, os subsídios para tudo e para nada, o endividamento sem regra, etc, etc.

É surreal que a população aceite este estado de coisas e é surreal que os líderes europeus não tenham a humildade de reconhecer que tal empreendimento é tão só incumensurável para a sua inteligência como para a sua capacidade de ação. Não é nenhum atestado de incompetência, mas antes reconhecer a nossa incapacidade de lidar com problemas que estão muito para além das nossas capacidades.

Arriscamos a especular que nem Jesus Cristo, mesmo com a ajuda de seu Pai, teria capacidade para conceber soluções de forma permanente para problemas tão complexos que só a sociedade consegue resolver nos biliões de decisões que toma diariamente.

Tiago Mestre

1 comentário:

Vivendi disse...

Tempestades a caminho!

Após as eleições francesas...