8 de abril de 2012

Subsídios, lapsos - reminiscências da 3ª pedra no sapato

A velocidade com que certos acontecimentos se revelam deixam-nos de queixo caído.

Há apenas 4 dias referimos aqui que as declarações de um comissário europeu acerca da suspensão dos subsídios para funcionários públicos serviria de balão de ensaio para se perceber o que o governo estava a preparar. Julgávamos nós que estas afirmações eram uma forma de comprar tempo até o governo se lembrar de um alçapão jurídico que o "legitimasse" a não repor os tão prometidos subsídios.

Basicamente, ficou a ideia de que o comissário usou aquela velha tática de "apalpar terreno" para perceber a reação que viria do lado de lá.
Desta forma o governo sondava quase "de borla" a opinião pública portuguesa, podendo alterar a tempo o discurso.
Demasiada teoria da conspiração? Talvez, porque o que se passou de seguida é quase surreal e parecido mais com uma reacção química nuclear numa central japonesa do que com um ensaio controlado em laboratório.

Vitor Gaspar reconhece logo no dia seguinte que andou a "enganar" a malta durante meses com o seu ar solene e "amocional" acerca da vigência da troika em Portugal e respetiva reposição dos subsídios.

E logo a seguir Pedro Passo Coelho anuncia o tão esperado alçapão jurídico: os subsídios serão repostos gradualmente.
Ao referir este advérbio de modo sem a respetiva explicação (qual é a graduação), fica a sensação de que os subsídios NÃO serão repostos.

Este tipo de afirmações assemelham-se mais a um estado de desespero e sobrevivência política do que em querer "salvar" a nação e resgatá-la das trevas em que se encontra.

Pelos vistos o alçapão jurídico já estava idealizado e não era preciso comprar mais tempo nenhum (aqui no Contas ainda nos surpreendemos pela nossa ingenuidade). Só faltava apresentá-lo à população, e de que forma? Da mais cobarde:
Usa-se um comissário de Bruxelas ou Estrasburgo para servir de testa de ferro e depois lançam-se umas atoardas, ora no parlamento por um ministro, ora numa entrevista radiofónica por outro, e siga pra bingo.
O plano de comunicação é mau porque tem requintes de perversidade conjugado com um modo desorganizado de fazer as coisas.
Qualquer cidadão compreende isso e não deixa de sentir algum nojo por este modus operandi. 


Assim será difícil a Passos Coelho e a Vitor Gaspar preservarem a credibilidade que granjearam por oposição ao executivo de José Sócrates.

O estado de graça está a esgotar-se. Agora é a doer.

Tiago Mestre

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