19 de julho de 2012

Espanha inicia travessia do deserto

Espanha volta a estar sob forte escrutínio, ou seja, mais investidores a querer vender do que a comprar.

Os leilões "exigentes" que Espanha promoveu hoje, com venda de dívida a 5, 6 e 7 anos é dura tarefa para quem anda na mira dos mercados há pelo menos 1 ano.

A coisa correu mal e os monitores começaram a disparar mensagens de alarme. O mercado secundário, que umas vezes anda a reboque, outras influencia diretamente os leilões primários, desta vez foi a reboque e a dívida a 10 anos já anda pelos 7% de juro novamente.

Mas surpreendentemente, hoje o ministro das finanças espanhol foi ao parlamento dizer umas verdades. Que espanto, que raridade num político. Podem ver aqui.
Os investidores, habituados a tanta mentira proferida pelo Sr. Rajoy e pelo Sr. Guindos nos últimos meses, ficaram confusos com este novo registo e não gostaram.

Se há uma semana Rajoy afirmava que a crise era bancária mas o reino estava bem e recomendava-se, hoje o ministro das finanças vem dizer o que é uma evidência para qualquer pessoa pragmática e honesta:

O Estado terá que reduzir despesa porque se não o fizer o défice mantêm-se e a dívida continuará a subir até ao colapso.

Uau! Parabéns sr. Montoro pela franqueza.

Já agora, informe também o parlamento e os espanhóis que as medidas de austeridade que o governo será forçado a tomar levarão o desemprego a subir dos 25% até aos 35%, e pelo meio a (R)ecessão transformar-se-á em (D)epressão.


Com tanta decisão difícil para tomar e com tanta mentira à mistura em tão pouco tempo, tememos pela vida da classe política espanhola, sobretudo dos ministros mais relevantes.
Culturalmente, Espanha NÃO É Portugal, e quando há revolta, é porrada a sério.


Preparem-se, caros espanhóis, porque a viagem vai ser atribulada, e encontrar um paralelo na vossa história só mesmo na década de 30, guerra civil incluída.
Nós aqui por terras lusas já iniciámos a travessia no deserto. Estamos agora a passar aquela fase da hesitação em que:
ou continuamos
ou voltamos para trás com MEDO

Tiago Mestre

3 comentários:

Vivendi disse...

Eu sou um admirador de Espanha, pela força das suas regiões e da sua sociedade onde proeminentemente se destaca a sua classe média. Onde quase todos se sentem no mesmo barco. E os espanhóis vão preferir sair do € a um purgatório de 10 anos.

Já já, também alguém vai ter que pegar na Grécia e dar-lhe uma saída digna do €.

Fernando Ferreira disse...

"Já agora, informe também o parlamento e os espanhóis que as medidas de austeridade que o governo será forçado a tomar levarão o desemprego a subir dos 25% até aos 35%, e pelo meio a (R)ecessão transformar-se-á em (D)epressão."

Qual e' a alternativa? O grande problema deste mundo e' que a grande massa populacional tem ZERO nocoes basicas de economia. O pais esta falido e acham que vai continuar a crescer GASTANDO o que nao tem. Isto nao cabe na cabeca de ninguem, nao tem absolutamente logica nenhuma.

O caso de Espanha e' mais um exemplo do tipico intervencionismo do estado na economia. Quando o dinheiro gratis comecou a chover a rodos do norte da europa, a Espanha tornou-se um "milagre economico", que se materializou na construcao civil. Esta grande oferta de imobiliario nao surgiu da verdadeira vontade dos consumidores, das suas poupancas, veio de dinheiro gratis. As empresas de construcoes foram aliciadas a investir todos os seus recursos na construcao, para nao correrem o risco de "perderem o comboio". Mao de obra foi precisa e mais e mais pessoas apostaram na area. Uma horde de agentes imobiliarios, advogados e pessoal administrativo foi necessario, tudo incendiado pela bolha e nao por procura real. Resultado? Foram construidas casas em todo o lado, mesmo em sitios onde nunca deveriam ter sido construidas. O que acontece quando o dinheiro acaba? A bolha rebenta e todos estes mal-investimentos tem de ser extintos. A economia tem de "purgar", digamos assim, todos estes recursos que foram mal aplicados. Como consequencia, empresas vao ter de fechar, pessoas vao perder o emprego, agentes imobiliarios vao ter de arranjar outra ocupacao. A purga da economia tem de ser com DORES, nao ha outro modo. E qual e' a resposta dos politicos? Eles querem resolver a crise SEM DORES. Eles nao qurem desagradar a quem os elegeu, como e' evidente e o que as massas querem e' a continuacao das coisas como estao. Isso nao pode acontecer.

O estado tem de sair da frente da economia privada. Despesa publica tem de ser reduzida ou completamente eliminada, impostos tem de ser reduzidos ou completamente eliminados, regulacoes, leis, burocracias tem de ser reduzidas ou completamente eliminadas. So a iniciativa privada cria riqueza. Hordes de FP tem de ser despedidos, esta mao-de-obra tem de ser redireccionada para areas produtivas, Tem de haver muita dor e e' essa dor que ninguem quer aceitar. Cumprimentos

Tiago Mestre disse...

Fernando, quando eu te quero convencer de uma ideia mas tu estás convencido do seu contrário, não é forçando os prós da minha ideia e omitindo os contras que vamos lá. Até promove maior polarização:fica cada um cada vez mais isolado.

É preciso que eu diga os prós, e os contras. Só assim reconhecerás credibilidade e seriedade no que estou a afirmar.

Defender austeridade significa muito mais desemprego, muito mais DOR no curto prazo como referes.
O povo também tem que saber isso e preparar-se desde já, senão passamos por charlatões tal como apelidam aos que agora lá andam.

Quando refiro os contras, e exatamente para reforçar as ideias que defendo.

Nem sequer equaciono alternativas. É perceber as consequências da decisão, boas e más, e avançar prá frente.
Para haver prosperidade no longo prazo, a dor no curto prazo terá que ser lancinante. O corpo está com tantas doença que isto não vai lá com ben-u-ron