8 de agosto de 2012

Petróleo desce... e bem. Veremos até quando (Parte2)

Bastou o preço do barril de Brent ter roçado os 90 dólares a 17 de Junho para que rapidamente o preço invertesse a sua tendência.

Objetivamente, não há razões do lado da procura para que este suba, e provavelmente da oferta também não, já que o fornecimento tem aguentado as necessidades do consumo, sempre dentro desta janela (90-125 dólares).


Escrevemos isto a 8 de Junho, exatamente há dois meses, e que achamos que vale a pena relembrar:

Sabemos que não há um preço máximo para o fornecimento de petróleo, mas a história da formação de um preço mínimo já não é bem assim. A OPEC, por produzir mais de 40% do petróleo mundial, tem uma arma espetacular para não deixar o petróleo baixar muito: fechar a torneira.

Acreditamos profundamente que é isso que tentarão fazer daqui para a frente. A Arábia Saudita tem muitos subsídios para pagar à população através das receitas das exportações.
Outros países estão comprometidos com tecnologias de extração de petróleo que só são economicamente viáveis se o preço não baixar dos 80 dólares o barril, como as tar sands no Canadá, a extração a grande profundidade nos oceanos ou a última extravagância na delapidação dos recursos naturais do planeta: o shale oil nos EUA. 


Como foi possível que a partir de 18 de Junho a tendência se tivesse invertido, tendo chegado hoje novamente aos 112 dólares?

É que os dados económicos dos países industrializados continuam a deteriorar-se a passos largos, e os países em desenvolvimento (China e Índia) revêem mensalmente em baixa as perspetivas do seu crescimento. Por aqui não nos parece.

A produção de petróleo tem tocado novos máximos, pelo que com a queda do consumo é de esperar que a relação entre oferta e procura se reequilibre. Por aqui também não nos parece.

O que é que sobra que justifica este aumento?

1. O estímulo que os governadores dos bancos centrais andam a prometer a meio mundo, gerando a espetativa nos investidores de crescimento económico, e estes (parolos), põe-se logo na fila de espera de tudo que seja vital para a economia
2. A necessidade dos países da OPEC em não deixar baixar o preço, fechando eventualmente a torneira para quebrar o equilíbrio da oferta vs procura e assim continuarem a pagar os apoios sociais que prometeram à população.

Tal como há 2 meses, só conseguimos atribuir este aumento de preço a estas 2 "realidades".

Mas não demorará muito até que os investidores (parolos) percebam que estão a antecipar compras de um bem que afinal não fará assim tanta falta ao crescimento económico, porque simplesmente não irá haver crescimento económico nenhum:
1. Ainda hoje o Banco de França lançou a ideia de que a França viverá um segundo trimestre consecutivo de recessão.
2. As estimativas de crescimento dos EUA para 2012 já andaram a voar pelos 3% há uns meses, estando agora a rastejar pelos... 1,5%.
3. A Alemanha continua a perder encomendas, aproximando-se perigosamente dos níveis de 2009.



Acreditamos que o preço do Barril de Brent continuará neste "plateau" 90-125 dólares até ocorrer um epifenómeno qualquer.

Resumindo:
Quando se deixa a economia percorrer os seus trâmites, sem manipulação centralizada, esta entra logo em modo "realidade", caindo tudo o que são índices, mercados de ações e o petróleo, claro.
A pressão para se recorrer à manipulação entra em ação!

E quando se tenta "pôr" a economia a crescer, a malta desata logo a correr a comprar petróleo em antecipação, prejudicando na semana seguinte o próprio crescimento da economia por se ver o gasóleo uns cêntimos mais caro.

Preso por ter cão, preso por não ter.

Tiago Mestre

2 comentários:

Fernando Ferreira disse...

Bom post, Tiago.

O dinheiro fresquinho e acabadinho de imprimir (agora ja nem isso, e' tudo bits informaticos)que o FED e outros bancos centrais entregam aos bancos comerciais vai ser exactamente o dinheiro usado para estes "bid" especulativamente as commodities,o petroleo entre outras, ao mesmo tempo que o poder de compra do dolar vai indo pro tinteiro, sendo precisos cada vez mais dolares para comprar o mesmo barril de petroleo.

No final de contas, a culpa dos altos precos, segundo os "bondosos" politicos, sao desses "malvados capitalistas selvagens e desregulados", que so existem para "explorar" os trabalhadores.

Haja paciencia...

Tiago Mestre disse...

Li hoje no Zerohedge que esta subida das ações nos últimos dias já está a descontar um novo LTRO, ou seja, ainda nada foi anunciado e os investidores, desesperados, desataram logo a comprar tudo o que mexia.

Pergunta:
E se nada for anunciado nos próximos meses? E se a Grécia falhar mesmo o pagamento de 3 mil milhões de obrigações a 20 de Agosto?

À semelhança dos EUA, temos agora na Europa a manipulação dos mercados de ações e outros, sempre recorrendo à conversa fiada dos nosso queridos líderes.