6 de agosto de 2012

Transportes públicos com cada vez menos... público

A triste história das empresas públicas em Portugal já foi objeto de escrutínio aqui no contas, mas face a novos desenvolvimentos que vieram a público recentemente, não resistimos a fazer mais uns comentários:

Fomos informados pelos media na semana passada que empresas como a CP, a Carris ou o Metropolitano de Lisboa têm visto o seu número de passageiros reduzir significativamente.

À primeira vista acreditamos que tal redução se deve sobretudo à redução de viagens discricionárias, ou seja, aquelas que eram mais para ir visitar as amigas e os amigos, do que propriamente para ir trabalhar.

Com este rombo nas receitas das empresas de transportes, todos sabemos que as despesas não descerão na mesma proporção. Nestas circunstâncias específicas, o lucro operacional cai de forma vertiginosa, e para aquelas que já geravam prejuízos, então os resultados colapsam ainda mais.

Relembramos que estas empresas possuem quase todas elas capitais próprios negativos, fruto de resultados negativos ao longo de... décadas e sem que o acionista ( Estado) compensasse o prejuízo com a injeção de capital social.

Resumindo:
Todas estas empresas habilitam-se a registar prejuízos recorde em 2012, depauperando ainda mais os capitais próprios e exigindo necessidades de financiamento difíceis de obter.

A trajetória económica e financeira destas empresas geridas e representadas pelo Estado são um autêntico manual de boas práticas sobre como NÃO se deve gerir uma empresa e quais os segredos para levar uma empresa à falência em três tempos.

Agora é tarde de mais, porque se se quiser reduzir despesa, é preciso despedir e indemnizar (não há dinheiro para despedimentos), e se se quiser aumentar tarifas, o poder de compra geral não acompanhará tal desígnio, revelando-se num menor número de viagens discricionárias e quebra da receita.

Estas são as consequências de se quererem adiar as decisões difíceis (a tal dor) para o futuro longínquo, reservando para o presente as más decisões e a manutenção do status quo.

Tiago Mestre

2 comentários:

Filipe Silva disse...

Excelente Post como sempre.

É interessante como o planeamento central leva a um resultado não previsto pelo planejador.

O transporte público foi criado para que o trabalhador tivesse uma forma económica de fazer o trajecto casa-trabalho.
É algo intrinsecamente socialista.

Mas com as politicas encetadas de crédito abundante e fácil, levaram a que grande parte da população adquirisse um automóvel, logo a necessidade de usufruir do transporte público tornou-se nula.

Os carros tem vindo a tornar-se mais baratos e mais económicos, mesmo hoje com o preço dos combustiveis elevado, muitas vezes torna se mais economico transitar de automovel vs transporte publico.

A realidade é que com tantos impostos, tanto desemprego e uma diminuição dos salários, as pessoas acabam por realizar menos viagens, levando a que como dizes e bem, as contas das empresas se tornem completamente fora do controlo.

A realidade é que se fossem privadas o Estado já teria exigido o seu encerramento.

Aqui verificamos porque é que o socialismo não funciona, o que é publico existiu e continua a existir porque o Estado continua se a endividar, it´s the debt stupid.

Tudo regressa ao mesmo, há divida



Eu sou um consumidor de transporte publico (para o presente momento é a situação que melhor satisfaz a minha necessidade de transporte), mas o serviço é caro na vertente utilização esporádica.
Mas cómodo e luxuoso(metro do porto), talvez algo que não tivessemos posses para (bem fizeram se investimentos bem piores, como Estádios de futebol, mas não é desculpa)

Manuel Galvão disse...

Ninguém se lembrou ainda de fazer uma conta de exploração de Carris (por exemplo), separar os custos diretos de produção e comparar o total com os custos totais do balanço.

Ficava evidente aonde seria possível cortar.

O problema é que esses cortes iam afetar precisamente as pessoas que têm poder para influenciar os decisores a esquecer a questão.

A automatização dos equipamentos de produção permitiu alcançar um nível de produtividade do pessoal da produção que dificilmente poderá ser melhorado. Isto é válido para muitas empresas públicas... Nas privadas os acionistas já resolveram o problema.

Suponho que as indeminizações compensatórias são necessárias, mas deviam ser calculadas em estudos macroscópicos sobre a influência do preço do transporte público na dinamização da economia.