28 de setembro de 2012

Eu imprimo muito, mas tu imprimes mais. Quem ganha?

O Vazelios fez um comentário no post anterior com uma pergunta pertinente:

Se eu imprimir mais do que os outros, será que ganho alguma coisa com isso?

Ou seja:
Vale a pena desvalorizar mais a nossa moeda do que as restantes para ganharmos competitividade?

O Filipe também respondeu e concordo.

Há uns meses mostrei um gráfico que o Vivendi gostou muito e que referia que os países que enveredaram por desvalorização monetária não viram as exportações crescerem mais em valor do que as importações. Até aconteceu o oposto. Remeto novamente o gráfico, que não é muito fácil de interpretar:



Iene, Yuan e Dólar são as moedas que viram o valor das suas exportações perder mais terreno face às importações. Todas elas foram objeto de desvalorização massiva.

Parece-me que a conclusão "natural" de que desvalorização monetária reforça a competitividade é literal e redutora, porque não tem em conta uma data de consequências indiretas, e que pelos vistos aniquilam a aparente vantagem de baixar o preço das exportações:

- Importa-se mais caro, mas esta é evidente
- Gera debandada de investidores por receio de desvalorização do dinheiro
- Sai dinheiro do país e com isso desaparece a energia necessária para o investimento. Sem investimento nada se reproduz.
- Ficamo-nos pelas empresas que já existem, mas que não são suficientes para a permanente transformação económica e industrial que o mundo de hoje exige.
- Não esquecer que para que o emprego se mantenha, as economias têm que crescer 2 a 3% ao ano pelo menos. E esse crescimento não pode incluir nem o investimento do Estado nem o endividamento. Tem que ser crescimento baseado em poupança e investimento reprodutivo, ou seja, setor privado.
- Ninguém quererá emprestar dinheiro denominado na nossa moeda com receio de esta ser desvalorizada no futuro. Mais uma machadada no investimento e na criação de emprego.

Ou seja, ao desvalorizarmos a moeda na tentativa de "ajudar" as empresas a exportar mais no PRESENTE, parece que estamos a roubar energia ao FUTURO, impedindo a criação de novos investimentos de forma sustentada no longo prazo.
E que energia é essa?
É a poupança acumulada em solo doméstico que abala de cá e a quebra da vontade de investidores externos que pouparam noutro sítio em quererem cá meter o dinheiro.

No meio desta confusão, ganha quem imprime mais ou ganha quem imprime menos?
Em boa verdade, sempre que se desvaloriza, parece que nunca se ganha. É complicado

Tiago Mestre

2 comentários:

Vivendi disse...

Sou frontalmente contra.

Não há crescimento porque o petróleo está caro demais. Se o barril de petróleo estivesse nos 20 dólares haveria crescimento de sobra na sociedade ocidental.

Mas isso também leva-nos para outras conversas sobre a mudança de paradigma na economia baseada sobre o petróleo.

As exportações não são essenciais para o bem estar de uma país.

Ter uma balança comercial equilibrada, défices controlados, dívidas baixas,moeda não inflacionária, é que são os fatores essenciais para uma economia.

vazelios disse...

Já tinha pesado alguns desses prós e contras, mas nunca com essa precisão.

Mas sendo assim quando afirmam que o ter controlo sobre a nossa moeda e a sua desvalorização, como tivemos em 1979 e 1983 , é a unica solução e que não dispomos neste momento, não é completamente verdadeira...tem prós e contras.

Mas agora o mundo é outro.

Obrigado Tiago e Filipe pelo esclarecimento.