30 de setembro de 2012

Isto sim, é o pior das PPP

De acordo com os contratos realizados entre o Estado e os consórcios das PPP's, ficou previsto que certa rentabilidade estaria garantida.
Essa rentabilidade manter-se-ia durante a vigência do contrato, e portanto, era possível antecipar todo o lucro que o consórcio teria.

E eis a pergunta dos gulosos:
Porque não antecipar desde já os lucros e transferi-los para os acionistas?

Alguém se lembrou, e ninguém disse que não. Ei, a prosperidade seria infinita, certo?

Segundo uma reportagem da TVI24 que cita um estudo da Ernst&Young, mais de 730 milhões de euros foram já transferidos dos consórcios para os acionistas, depauperando antecipadamente os capitais desses mesmo consórcios. Mas como era tudo com dinheiro emprestado, que lixe não é?

É esta a promiscuidade das PPP's:

Governo sonha, mas não tem dinheiro
Privados querem, mas não têm dinheiro
Bancos pedem e arranjam o dinheiro

O que aconteceu foi isto:
Pediu-se aos privados para gerirem e explorarem recursos considerados públicos sem assumirem riscos do lado da receita.
Isto não é capitalismo, é um sistema híbrido inventado à pressa por um dos lados da transação que quer obra feita mas que não tem dinheiro.

Tinha que dar asneira, porque qualquer privado, qualquer empresário responsável anda à procura de yield para a sua empresa.
É a sua natureza a funcionar, libertar recursos dos negócios para alimentar a empresa e alimentar-se a si mesmo. Quando o Estado lhes oferece condições únicas, não hesitam.

Mas raramente o futuro é como nós o projetámos, e neste caso, o Estado prometeu objetivos e metas que não podia cumprir.

E sem terem feito contas, ou em alguns casos evitaram fazê-las, não quiseram perceber que o desastre económico se aproximava rapidamente, e com isso o Estado entraria em colapso. Foi o que aconteceu, e agora que o governo está a renegociar as PPP's, a verdade é que a tal rentabilidade perpétua já lá não estará, mas o dinheiro dos futuros lucros já foi transferido e "desapareceu".

O modelo de negócio das PPP's ficará na história como das coisas mais infames do período final da nossa democracia, ou da III República, chamarão alguns.

Muitos destes consórcios estarão já em processos de insolvência técnica, mas como os bancos estão enterrados até ao pescoço com estes negócios milagrosos ruinosos, andam a evitar a todo o custo que se declare a falência destes. Querem adiar o descalabro o mais possível, contudo o que estão a fazer é a juntar cada vez mais dinamite no interior do paiol.

"Senhor, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem"

Tiago Mestre

2 comentários:

Vivendi disse...

Estou ansiosamente à espera das ordens superiores da troika para esventrar esses malditos contratos.

Ricardo Anjos disse...

é o que dá "mixar" Capitalismo das elites com Socialismo de Estado.
Antecipar receita... e adiar despesa! À conta desta receita, já houve algumas victirias eleitorais em PT!
Pensaram os das PPP's: porque não fazer o mesmo???