5 de outubro de 2012

a entaladela nos empreendedores (Parte 3)

Em resposta ao comentário do anónimo no post anterior:

caro anónimo, não chega bem a ser filosofia, é mais uma filosofia de pragmatismo


Se me perguntares o que faria se fosse eu o primeiro ministro?
Só atacaria a despesa, recusava-me a aumentar os impostos, aliás recusava-me a mantê-los tão altos. Explicaria quantas vezes fosse necessário, e se não tivesse condições para o fazer, teria que me ir embora.

Mas como não sou PM, sou antes um espectador que se julga atento, tenho a dizer-te que deixei de acreditar que se consiga atacar o défice pela despesa.
Tenta-se desesperadamente pelo aumento dos impostos, que só gerará mais evasão fiscal. Mas também este é um caminho para baixar a despesa, porque sem receita o Estado entrará em rutura mais cedo ou mais tarde. É deixar que o caos ocorra porque é o Estado que corre contra o tempo, não eu. Preferia que não fosse assim.

Eu preferiria o caminho da racionalidade e da matemática, das decisões difíceis vs as decisões fáceis, de não fazer aos outros aquilo que não gostaria que me fizessem a mim, de não enganar uns a troco de beneficiar outros. É esta a minha filosofia, tanto na vida como na empresa.
Mas sejamos pragmáticos:
A classe política não consegue ir por aí porque está presa em si mesma, opta pelo fácil, vive na intriga, esquece o essencial, e pelos vistos é assim no mundo quase todo.

É a população que é chamada a tomar as decisões difíceis (fujo ou não fujo? Sobrevivo ou não sobrevivo?)

É nessa gente em que eu me insiro, e por preocupação minha para com o meu país e com os meus concidadãos, tento passar aqui no Contas a mensagem para quem a quiser ler.

Quando penso nisto vem-me à memória uma frase épica do Jim Rogers acerca das decisões dos políticos em imprimir dinheiro:
"It's the wrong thing to do, but that's the only way they know how to do it"

abr
tiago

2 comentários:

Carlos Antunes disse...

Caro Tiago,

Sem dúvida, como já reconheceu, se conduz um Ford Fiesta, é uma EXCEPÇÃO entre os empresários.
E este é um dos grandes problemas deste país.
Porquê? Passo a explicar: é um país que em plena época de expansão do capitalismo a nível mundial, NÃO TEM CAPITAL (está descapitalizado). É este o nosso grande problema.
MAS AS PESSOAS ACHAM QUE TEMOS MUITOS RICOS/capital devido às atitudes culturais dos nossos "empresários" (muitos deles autênticos trolhas/energúmenos, sem qualquer mérito ou iniciativa, que se aproveitaram dE desvios/debilidades estruturais do que deveria ser um país/economia - corrupção, amiguismos, fragilidades dos eleitos municipais, fundos comunitários, formação profissional, etc, etc, etc).

Temos por isso um país dividido: muita gente vê essas atitudes "descabeladas" dos nossos pseudo-empresários e ACHAM QUE HÁ MUITO DINHEIRO, E QUE ESTÁ É MAL DISTRIBUÍDO.
Como dizia o Vazelios, num post atrás, perde todas as discussões económicas: as pessoas não acreditam!

Temos um país que precisa de Capital e de fomentar o investimento privado (gerador de riqueza, que tanto nos falta), mas não temos condições culturais/sociedade para isso!
A sociedade não conseguiu ainda perceber o porquê de isto estar a correr mal.

Como diz Pedro Cosme Vieira no seu livro "Acabou-se a festa": como resultado, corremos o risco de nos tornarmos na nova Ucrânia, de tal modo dividida a sociedade, que os partidos não conseguem deixar de discutir e culpar-se uns aos outros, sem resolver os problemas, e, entretanto, nas últimas décadas perderam 1/3 da população que emigrou e foi sempre a piorar o seu nível de vida.

Será isto que nos espera...

Mas o comportamento dos nossos "empresários" é que muito contribuiu para isto!!

Carlos Antunes disse...

Parte II

Dito isto, também é verdade que grande parte da sociedade portuguesa tem ainda um ressentimento contra o patrão/empresário.

Sobretudo, uma enorme franja da sociedade (actualmente acima dos 45 anos, com um enorme peso no poder instalado «establishment» e a nível das votações) vive ainda da matriz cultural e social despoletada pelo "25 de Abril": gerou-se nesse a ideia utópica de que toda a gente tinha direito a uma vida desafogada em termos materiais e que era uma questão de tirar aos ricos/patrões para dar aos pobres/trablhadores...

Uma versão infantil da realidade, uma mistificação do tipo "Robin Wood" à portuguesa.

Que perdura!
Essa leitura ainda é - imagine-se! - a que está na origem da indicação de voto da grande maioria dos eleitores portugueses (sobretudo mais velhos) hoje.

Por isso é que este país é socialmente de esquerda - com imensos reflexos nos media e nos votos (nos media e na política sempre foi "politicamente correcto" ser-se de esquerda - lá está: "em favor dos pobrezinhos").

Mas, como disse, esta ideia/preconceito também se implantou devido à tais atitudes culturais dos nosso "patrões": fuga aos impostos, descapitalização das empresas para ostentação pessoal, despotismos e perseguições pessoais e até assédio a funcionárias dentro da empresa, etc, etc.
Bem sabemos o que foi o perído dos anos 80/90 (pelo menos aqui no Vale do Ave).

Agora é preciso captar Capital/riqueza e vai ser muito difícil devido a este lastro cultural.

Insisto: em larga medida muito por culta dos "patrões", que não foram nada inteligentes (para não dizer outra coisa) na forma como se decidiram promover em termos sociais.

E nunca vejo indicado o verdadeiro problema da Democracia:
A DEMOCRACIA SÓ FUNCIONA QUANDO O CIDADÃO É LIVRE E ESCLARECIDO (eu prefiro dizer Instruído,)como diziam os clássicos franceses do Iluminismo.
Mas toda a gente se esquece disto!

Sem instrução dos votantes, a Democracia é uma ditadura como outra qualquer: simplesmente substitui a violência pela persuasão do marketing e propaganda!
Mas o despotismo é o mesmo!

E ficam as pessoas a esgrimir argumentos e a atirar culpas e preconceitos uns aos outros, sem perceberem os problemas de fundo...
para benefício de uns poucos instalados, e degeneração progressiva dos restantes.

Não vai ser fácil... Como disse no outro post, corremos o sério risco, com este lastro social e cultural, de nos tornarmos na nova Ucrania.

A esperança seria que as novas gerações - muito mais instruídas - conseguissem impôr a sua visão para um novo Portugal.

Mas como já vi aqui em alguns posts, a nova geração não está para isso: prefere o caminho mais fácil que é desistir e pôr-se a milhas dos problemas.

Por isso é que, para mim, os emigrantes não são nenhuns heróis...

Há é que lutar - e muito - por mudar este país!