10 de outubro de 2012

A ideia de governo de União Nacional começa a ganhar adeptos

Ouvi hoje duas vezes na televisão, sendo que não me recordo quem o disse da primeira vez, mas da segunda foi Alexandre Soares dos Santos, chairman do Grupo Jerónimo Martins, na SIC Notícias, a sugerir a formação de um governo tipo bloco central que se congregue à volta de objetivos comuns.
Se a moda pega, parece que teremos cada vez mais gente a sugerir medidas desta natureza

Eu compreendo a angústia do Sr. Alexandre:
Ele vê que mesmo numa ocasião tão crítica como aquela que o pais vive, os partidos continuam na trica política, agridem-se verbalmente e não se conseguem juntar "oficialmente" para analisar a realidade e propor medidas.
Na análise estamos todos estamos de acordo, mas a solução do Sr. Alexandre para este problema: formar um governo tipo bloco central nomeado pelo PR é que já não me agrada.

Eu suspeito que só alguns políticos, mesmo os mais ilustres, é que perceberam a inevitabilidade de termos que reduzir 10, 20, 30 mil milhões de despesa. E desses só alguns é que perceberam as consequências nefastas para a sociedade civil de tirar o Estado da equação. E desses, só um ou dois é que estaria disposto a defender a solução, tendo a consciência que seria crucificado por toda a gente.

Ou seja, mesmo que se entregue os destinos do país a um governo desta índole, dificilmente este conseguirá analisar a realidade objetiva, mais difícil será traçar um rumo e uma meta, e pior ainda será cumpri-la.

A esta primeira adversidade juntar-se-ia outra:
Um governo não sufragado pelo povo, e não eleito em função do seu projeto político, é praticamente uma ditadura. A expressão é forte, mas não vejo outra maneira mais macia de o dizer.

O povo português não suportaria nem a primeira adversidade nem a segunda.

Mas no presente, o que vemos é que o povo sente-se desesperado, e palavras destas são uma fonte de esperança, de transição para algo melhor que erradique o cancro vigente. Mas como não conseguimos aprender com a história, dificilmente percebemos o que está escondido por trás destas afirmações. Inclusivamente o Sr. Alexandre até deixou escapar o termo "União Nacional" ! Se calhar nem se apercebeu do alcance da afirmação.

O que me apetece dizer é que parece que já vi este filme, apesar de que não sou do tempo do final da monarquia e da vigência da 1ª República.

A formação de governos por iniciativa, ou do rei ou do presidente da república, eram uma constante.
João Franco foi o último primeiro ministro da monarquia e tinha poderes ditatoriais.
Sidónio Pais, já no tempo da República, foi também um político que exigiu poderes ditatoriais e que governou 1 ano até ser assassinado na Estação de Santa Apolónia.. Pimenta de Castro foi outro militar que também governou com poderes ilimitados concedidos pelo Presidente da altura. Até que à 3ª foi de vez, e Gomes da Costa, vindo do norte de Portugal montado no seu cavalo branco, conseguiu lançar as bases de uma ditadura que veria 2 anos mais tarde a entrada do professor doutor Oliveira Salazar para a pasta das Finanças, tendo este lançado as bases para que a ditadura perdurasse até 1974.

Não estou aqui a fazer apologias da democracia vs ditadura, até porque não consigo perceber que regime poderia ser melhor para Portugal. O Filipe fez-me essa pergunta recentemente e não consegui responder.

Com o que eu não lido bem é tentar analisar o passado e perceber que nos estamos a enfiar no mesmo buraco.

E este será bem pior, porque as dívidas hoje são muito maiores e o Estado ocupa 50% da economia. A energia foi drenada do setor privado para o público, sobrando muito pouco para os esforços que é preciso empreender.

A democracia está a cair de madura, do mesmo modo que os absolutistas perderam contra os liberais, a monarquia cedeu à República e a República cedeu à ditadura.

Hoje temos a Europa, que retardou muito estas clivagens típicas da democracia e dos partidos, também temos a emancipação da mulher e de certa forma da sociedade como um todo, estando esta mais atenta e mais pronta a reagir àquilo de que não gosta. Temos a velocidade da informação.

São variáveis novas que entraram numa equação já de si tão complexa e quase impossível de "mexer" para se tentar perceber que cenários podem estar em cima da mesa.

Tiago Mestre

13 comentários:

Luís disse...

Não esperava alguém com ideias liberais defender uma ditadura para resolver os nossos problemas.
Há mais soluções democráticas que podem ser desenvolvidas,
porque não direccionar as nossas ideias para implementar um sistema de base municipalista, mas atenção, não seria semelhante ao actual.
Seria algo parecido com o que se passa na Suiça,
as decisões dos políticos poderem sempre ser questionadas em referendos,
locais, regionais ou nacionais.
Os impostos e taxas serem de base regional e sempre referendados pelas populações que lá vivem,
se o presidenta da câmara quiser construir uma rotunda tem de dizer quanto custa a assumir que tem de "cobrar" esse dinheiro aos seus munícipes,
não é como agora em que se faz a obra sempre com o "dinheiro dos outros".
Tenho a ideia de que assim que os portugueses souberem que as suas decisões contam,
não vão ficar em casa à espera que os outros decidam por si.
Tenho consciência que esta ideia é quase uma utopia para se implementar em Portugal, no entanto, como amo demais a liberdade,
prefiro lutar por soluções que preservem a liberdade a defender regimes ditatoriais,
podem parecer interessantes de inicio mas com o tempo transformam-se sempre em meros defensores das classes que estão próximas do poder,
é ver o que se passou no Estado Novo de Salazar.
Luís M.

Tiago Mestre disse...

Luis, tentei escrever o post com o espírito mais aberto possível. Não dei nem prevalência à democracia, nem à ditadura.
Se me perguntasses se prefiro viver em democracia ou em ditadura, digo-te logo que preferiria em democracia.
Aliás, nem acredito pessoalmente que a ditadura vingue na cultura portuguesa. Não gostamos nem queremos extremos.

Mas analisando o que hoje temos e como a democracia se desenvolveu, parece-me que ela "está a pedi-las".

A democracia é uma espécie de flor frágil e delicada. Tem que se zelar muito por ela, sob pena de murchar e definhar.

A solução que apresentas da Suiça, uma espécie de democracia regional, agrada-me imenso, com fisco regional, ss regional, orçamentos e despesas regionais, porque também eu acredito que um estado democrático bastante centralizador, como hoje temos, é demasiado macrocéfalo e o povo desliga-se do poder e do regime.

A liberdade também me diz muito, e por isso mesmo tento dar esta abertura aqui no blog, expondo-me, obviamente, a interpretações como a tua.
Mas penso já ter lido e aprendido alguma coisa sobre ditadura e democracia em Portugal para pensar que a ditadura NÃO é regime para Portugal, mas ei, é a minha opinião, e não quero fechar demasiado o debate

Anónimo disse...

Tiago,
lê e comenta muitas das propostas aqui presentes:
http://movimentomudarportugal.blogspot.pt/

se possível, torna-te seguidor ou poe na blogroll

vazelios disse...

O problema da Democracia é que os seus actores, os politicos, regem-se pela demagogia e pela retórica e não pela busca da verdade.

Aliás todo o mundo vive assim.

Quem argumenta melhor, mentindo ou não, geralmente leva a melhor.

Eu também concordo com o sistema Suiço em várias coisas. Mas por exemplo na questão dos referendos haveria logo um gap enorme entre o conhecimento de sociedade deles com a nossa.

Basta ver aquelas reportagens que de vez em quando aparece a fazerem perguntas às pessoas.


No outro dia era:

"Quem é o presidente da assembleia da republica?"

Desde respostas como "O governo e o presidente da republica, não é?", ou "O governo" e outras que tais.

As respostas a este tipo de perguntas básicas revela a nossa cultura. Ninguém é obrigado a saber que antes era Jaime Gama, mas o facto de agora ser uma mulher poderia ter chamado mais a atenção, digo eu. Ao menos respondessem "ah agora é uma mulher". Mas nem é isso, muita gente nem sabe o que faz ou que existe um presidente da assembleia.

Exemplos destes há muitos.

Convocar referendos assim pode dar muito mau resultado.

Na suiça votaram NÃO no referendo a propor mais férias aos suiços. Cá em Portugal o SIM ganhava com uma vantagem esmagadora.

E tudo sem perceberem ou pensarem nas consequências de se ter mais ou menos férias.

Se os politicos não se pôem nos eixos e pararem com conversa fiada, agressões verbais para aqui e para ali, só resta mesmo aparecer alguém com cabeça para por isto nos eixos. Não é nada desejável, mas o que se pode fazer no estado de coisas?

Vivendi disse...

O Vazelios tocou brilhantemente na essência da questão.

Só posso estar em acordo com as suas palavras.

Tiago Mestre disse...

Pois, até podemos gostar da democracia como projeto para um regime ou para uma civilização.

Mas há sempre aquela pergunta:

Será que o projeto de regime se adequa à cultura do povo, à maneira de ser portuguesa?

É que se não se adequa, é a mesma coisa que querer vestir um casaco e ele não nos servir. Por muito que se insista, nada feito

Em que ficamos?

Daí eu não ter respostas, nem fáceis, nem difíceis, quando me perguntam se para Portugal é melhor uma democracia, uma ditadura, uma democracia mais regionalizada, etc. Não sei mesmo!

Fernando Ferreira disse...

Tiago, uma democracia E' UMA DITADURA. E' a ditadura da maioria. Qualquer forma de colectivismo e' uma ditadura.

Numa democracia, um determinado numero de eleitores vota num partido politico nao que represente "o melhor para todos" (como posso eu saber o que e' melhor para todos?) mas que represente "o melhor para mim mesmo ou para o grupo de interesse ao qual pertenco. Isso e' facil de constatar. Tivesse o PSD a intencao de despedir FP e logo todos os FP votariam em qualquer outro partido que nao fosse o PSD.

No final das eleicoes o partido mais votado forma governo. Como ficam aqueles que tem de arcar com as consequencias e pagar pelas accoes desse governo que nao escolheram? Como fica a minoria dos vontantes e todos aqueles que nem sequer votaram?

Sera que esse governo que lhes e' imposto nao e' para eles uma ditadura?

O que faz as pessoas suporem que o que quer que a maioria escolha e', necessariamente, a melhor e a mais justa escolha?

Todas as formas de colectivismo sao uma ditadura e a democracia e' uma delas.

Pedro Miguel disse...

Tiago, o Carlos Zorrinho acabou de te dar alguma razão no facebook:

“O contrato acabou. Decidimos a solução mais económica. Passar para aluguer de longa duração e alugar um Audi A5 e 3 VW Passat. Só quem não sabe o que é a actividade da AR [Assembleia da República] é pode imaginar que um GP pode não ter carros para os deputados que são solicitados para participar diariamente em actividades da sociedade civil em todo o País.
É dinheiro dos contribuintes? Claro que é. Mas quem quer uma democracia sem custos, o que verdadeiramente deseja é uma não democracia. Sem democracia os custos são ainda mais elevados mas ninguém sabe. Eu sou democrata e quero que tudo se saiba.”

Luís disse...

Em vez de se considerar que em ditadura se resolvem todos os problemas e
principalmente para quem tem ideias um pouco liberais,
é analisar como funcionava a câmara das corporações antes do 25 de Abril
para se ver como eram tratados os empreendedores ou empresários.
Ditadura é ditadura, podemos não concordar com a forma do regime actual,
mas não esperem nada de melhor de uma autocracia a não ser a limitação de todas as liberdades,
mesmo as que tem a ver com a propriedade, fecho de fronteiras, condicionamento
de movimento de capitais e pessoas.
Defender uma ditadura só porque com isso vai equilibrar as contas do país, acho muito pouco. Mesmo tendo a noção que é um pouco uma utopia,
prefiro continuar a defender uma democracia directa com a consequente redução drástica do peso do estado.
Tirando ser a segurança,coordenação/ordenamento do território e justiça (e mesmo esta cada vez
menos, a maioria dos litígios já começam a ser resolvidos em tribunais arbitrais),
não precisamos de estado central, tudo o resto pode ser resolvido pelos privados.
Ao contrário do que se passa actualmente, inverter a situação, o estado passar a ser financiado
pelas receitas dos impostos locais (autarquias)
em que eu possa ter a liberdade de decidir o que os políticos podem fazer com o meu dinheiro, a
ideia é referendar as decisões tomadas.
Podem-me contrapor que o cidadão comum não tem cultura, não sabe responder às questões básicas,
a verdade é que hoje podem não saber quem é o presidente da assembleia da república e dos
ministros mas serão muito poucos
os que não conhecem o presidente da câmara e das negociatas em que andou envolvido, melhor ainda
o conheceriam se ele lhe tivesse de pedir todos os anos o dinheiro para "governar" o concelho e o estado.
Para aqueles que acham que só os cidadãos com conhecimentos é que podem votar ou decidir o destino dos restantes aconselho este vídeo do Professor Huerta de Soto:
http://www.youtube.com/watch?v=S1Ta0zxdXJE
Luís M.

Filipe Silva disse...

A democracia pode ser tão má como a ditadura, bem pode ser uma ditadura da maioria.

Uma democracia como a que temos pressupõe planeamento central, logo limitação das liberdades individuais, como disse o Fernando "Qualquer forma de colectivismo é uma ditadura".

Analisando o Estado social, se eu for contra nada posso fazer, sou obrigado porque uma maioria o deseja.
Vejamos agora a situação nacional, nos últimos anos os politicos tem ganho as eleições dizendo que iriam fazer exactamente o oposto ao que depois fizeram, basta ir ao youtube e ver o que dizia o Passos Coelho, ou o que dizia Sócrates antes das eleições de 2009.

Se democracia é ir lá meter um X num quadrado e depois os eleitos poderem fazer o que lhes bem der na cabeça, então tudo bem, ao menos admitam isso, não venham com tretas de liberdade e mais não sei que merdas a esquerda costuma cuspir.

Deixo esta citação de Mises, o mercado é mais livre e democrata do que as democracias politicas alguma vez serão

"[T]he capitalist system of production is an economic democracy in which every penny gives a right to vote. The consumers are the sovereign people. The capitalists, the entrepreneurs, and the farmers are the people’s mandatories. If they do not obey, if they fail to produce, at the lowest possible cost, what the consumers are asking for, they lose their office. Their task is service to the consumer. Profit and loss are the instruments by means of which the consumers keep a tight rein on all business activities."

Fernando Ferreira disse...

Concordo com o Filipe Silva.
Acho incrivel como e' que se reconhece que o sistema democratico tem problemas serios e graves mas continua-se a dizer que para resolver os problemas da democracia precisa-se de "mais democracia" e nem seque poe-se em causa que a democracia e' apenas mais uma forma de organizacao colectivista e e' exactamente no colectivismo que esta o problema, ou seja, a idea que um qualquer individuo ou grupo de individuos tem a legitimidade de decidir como os restantes devem viver as suas vidas e gastar os frutos do seu trabalho.
No regime totalitario, um individuo ou grupo de individuos consegue o poder pela forca; num regime democratico, um individuo ou conjunto de individuos consegue o poder pelo voto da maioria dos eleitores.
Continua a ser "poder" sobre os outros, independentemente do modo como se conseguiu esse poder. Continua a ser coercivo, continua a ser contra a liberdade.
Poucos parecem conseguir perceber isso e continuam a confundir democracia com liberdade.

Ricardo Anjos disse...

Ainda sobre a sábia resposta do Zorrinho...
A democracia serve para isso: para legitimar as opções de quem gasta (Partidos, Instituições, ministérios) e de quem cobra impostos (Ministério das Finanças).

O que é reprovável, é a compra de carros de luxo, e depois vir dizer que até são baratinhos. E são estes(o Partido Socialista) os defensores do Povo. A hipocrisia, o pedantismo e o snobismo não têm limites em Portugal! e já há pouca vergonha na cara...

vazelios disse...

Caro Luis M. primeiro que tudo obrigado por mostrar mais um filme de Huerta de Soto, gosto muito de o ver/ouvir.

Eu não defendi que só os cidadãos com conhecimentos deviam votar. Defendo sim, primeiro que a população se deve educar ao máximo e tentar aprender tudo, ler todos os pontos de vista, formular opiniões.

Segundo que cultura geral, ao contrario do que alguns dizem e lhe chamam cultura inutil, é importantissimo para se ter bom senso.

Terceiro defendo que antes de se votar seja em quem for, deve-se tentar perceber o que cada um defende. Ou quando se vota em determinado referendo, tem de se perceber os prós e contras de cada um.

Obviamente que eu também quero mais férias, 3 meses de férias como nos tempos de estudante. Mas sei as implicações que isso teria.

O que digo é que muitas pessoas votam sem saber que tudo na vida tem implicações futuras.

Basta ver as reportagens que falei (exemplo do presidente da Assembleia - mas há muitos mais exemplos) ou um que vi também no outro dia nos EUA em que faziam perguntas sobre o país e nem sabiam dizer quantos estados tinha, quem era o democrata ou o republicano (Obama ou Romney), etc...

Enfim, mete pena.

Estamos à mercê de mestres da filosofia e da comunicação por um lado, e por outro de pessoas que não se interessam em aprender o minimo.

E nem é preciso ir para uma universidade para aprender.

O que eu já aprendi aqui e noutros blogues dá para muita coisa.