17 de outubro de 2012

Álvaro precisava primeiro de umas aulinhas de como ser (bom e mau) empresário


À primeira impressão, a medida até parece boa, mas para mim, que já ando a pensar nela desde que este assunto foi sugerido ainda no tempo do Sócrates, é de arrepiar.

Vejamos:
Porque é que as empresas e os empresários reclamam esta medida?
Porque supostamente alivia a tesouraria da empresa, já que em caso de atraso no pagamento da fatura pelo cliente, a empresa terá sempre que pagar o IVA ao Estado:
Ou ao fim do mês ao ao fim de 3 meses, consoante o volume de faturação da dita empresa.

E se os clientes pagassem a tempo e horas, seriam necessárias medidas desta natureza?
Obviamente que não.

O que o governo está a permitir é que o Estado receba algures no tempo o IVA, apenas e só quando o dinheiro entrar na empresa e o recibo for processado.
E se o cliente nunca pagar? O Estado fica a arder, obviamente.

Muita gente não terá a perceção disto, mas há muitos empresários em Portugal que são desleixados, não cobram junto dos clientes e deixam arrastar. O facto de terem que emitir a fatura e serem obrigadosa pagar o IVA é, em muitos casos, um ótimo incentivo ao empresário para que este cobra as dívidas dos clientes.. Caindo este incentivo, menos preocupado andará o empresário. É surreal mas é verdade.

E o que dizer dos clientes mal comportados que não cumprem os pagamentos acordados?
Serão premiados, já que não terão tanta pressão em cima das costas. E poderão adiar ainda mais os pagamentos sem que nada lhes aconteça, garantindo reforço de tesouraria à custa dos parolos dos fornecedores.

E o que dizer dos clientes bem comportados que pagam a horas?
São também parolos, porque podiam ficar com mais reforço de tesouraria em vez de libertar essa energia para o fornecedor, ficando em posição desigual perante os seus concorrentes que abusam a atrasarem-se nos pagamentos.

E o que dizer dos fornecedores que são exigentes e cobram as dívidas aos clientes a tempo e horas?
Não serão tão levados a sério nas reinvindações legítimas que têm junto dos seus clientes.

E o que dizer da captação de receita fiscal do Estado?
Não acontecerá como o governo tinha previsto pelas razões acima explicadas.

E o que dizer dos atrasos nos pagamentos que o próprio Estado também é pródigo?
Mais atrasados ficarão porque o fornecedor será menos exigente, reforçando este ciclo perverso.

E como controlará o Estado que o dinheiro entrou em caixa?
Só através dos recibos que o fornecedor emite ao cliente após pagamento. Mas tanto quanto sei, estes recibos são pouco controlados contabilisticamente porque não são reportados ao Estado. Como vai agora o Estado exigir que tal procedimento burocrático passe pelas suas malhas? E mesmo que tal seja possível, a burocracia será infernal.

Quem poderá ilicitamente beneficiar com este esquema?
Todos os fornecedores que vêem o dinheiro do seu lado e que não irão emitir recibo aos clientes. Estes estão-se nas tintas se o fornecedor emite recibo ou não porque contabilisticamente não lhes é relevante. O Estado deixa de cobrar o valor porque deixa de haver um comprovativo que evidencia a transferência do dinheiro.
A fuga fiscal será uma beleza e o Estado terá que gastar mais dinheiro na fiscalização, etc, etc. e nunca com os resultados de captação desejados.

As receitas do IVA que tanto contam para a receita do Estado poderão ter aqui um golpe enorme e impossível de cicatrizar.

Com esta medida, favorece-se quem prevarica e é desleixado, penalizando quem é cumpridor e leal para com os seus parceiros, quer sejam fornecedores ou clientes.

Em termos lógicos, até aqui era o fornecedor que aceitava ficar com a responsabilidade de recuperar os seus créditos, com as respetivas consequências negativas para a sua tesouraria caso se desleixasse.

Daqui para a frente, parte dessa responsabilidade, (valor do IVA a entregar ao Estado) será também partilhada pelo Estado, sem que este possua qualquer instrumento de recuperação desses créditos. Será a tesouraria do Estado a partilhar o risco da tesouraria das empresas credoras. Enfim, uma confusão em que o Estado não se devia meter.

Quem se atrasa a pagar é... caloteiro. E são os caloteiros que devem ser penalizados, não os sérios. E os empresários que não gostam de fazer cobranças, que há muitos, passam agora também a ser ajudados pelo Estado.

O Álvaro, como liberal que julgo que deve ser, deveria estar quietinho, baixar os impostos que são uma barbaridade e não se intrometer nos negócios das empresas.

A expressão é forte, mas esta medida é uma autêntica aberração política, económica e até fiscal.

E já que se cria o precedente, porque não ir ao cúmulo e alargar estas medidas, por exemplo, para tudo o que é pagamentos ao Estado?
Não pago o IMI da minha casa porque o meu patrão tem salários em atraso
Não pago o IRC porque não há tesouraria para tal
Não pago a ADSE porque o Estado aind anão me devovleu o dinheiro dos medicamentos comparticipados
etc, etc

Em Portugal, são os que pedincham que escolhem, e os que contribuem que acatam, quando deveria ser o contrário

Tiago Mestre

8 comentários:

Filipe Silva disse...


Dou te razão na tua opinião que o Estado não se deve meter na gestão das empresas.

Mas a relação entre prestador do serviço e o seu cliente deve ser algo que diz respeito apenas a estes, se o empresário é desleixado como dizes alguns serem, problema destes, se forem há falência só tem de se queixar de eles próprios.

O Estado não fica co responsabilizado em nada, se a empresa não quer receber paciência, se for assim duvido que aguente muito tempo no mercado.

Mas tu cumpres as tuas obrigações porque?

Bem eu procuro tratar os outros da forma como quero ser tratado, logo se quero receber o que tenho direito, terei de pagar o que devo.

A boa gestão de uma empresa passa por cumprir as suas obrigações e aproveitar as oportunidades.

Num país em que o Estado consome muito e paga muito mal, não será muito mau para o tecido empresarial,
vejamos por exemplo no sector da saúde o Estado esteve 3anos, repito 3 anos sem pagar a várias empresas e estas tiveram de adiantar o dinheiro do IVA ao próprio Devedor, existem casos de empresas que faliram porque o Estado não pagou e exigiu o IVA.

SE não cumprem o acordado, tribunal com eles, dirás nunca mais recebem o dinheiro porque o sistema de cobrança é muito mau, etc..
Isso já é um problema do Estado que não consegue fazer o que lhe compete em condições.

Mais uma vez, numa economia em que a propriedade privada é levado a sério e com um bom sistema judicia, os agentes económicos iram pagar, senão terão as devidas represálias.

O problema se o Estado encaixa ou deixa de encaixar o dinheiro não é dos empresários, se é ineficiente problema do Estado.

Os fornecedores não serão menos exigente, se o são, problema deles.

Se o Estado toma esta medida deve se precaver, senão, problema ainda melhor o sistema entra em colapso mais depressa.

O Estado não tem o direito de exigir o pagamento de um imposto que a empresa ainda não recebeu.
Sei que existe a visão de muito "boa" gente que a função das empresas é financiar o Estado, mas essa não é o sua mssão, é de gerar riqueza para o empreendedor.
para o empreendedor

Já agora o que entendes por liberal?
É que pelo que vejo existem muitas definições

Perdoa me mas este teu post é muito "socialista", o Estado não tem o direito moral de obrigar uma agente a pagar por outro, convém não esquecer que a empresa é um mero cobrador do IVA do Estado, quem o Paga é o consumidor final e não a empresa que presta o serviço.




Manuel Galvão disse...

O cliente está em falta logo a culpa é de quem vendeu (é desleixado)...

Pois é, o crédito mal parado é culpa de quem andou a trabalhar para poder vender o produto do seu trabalho,e depois não faz nada para receber o dinheiro que é seu.

Isto é evidente caro Wotson !!!



Vivendi disse...

Entendo o teu raciocínio Tiago mas também estou do lado do Filipe.

A justiça é que deveria funcionar melhor para proteger a iniciativa privada.



Tiago Mestre disse...

O Estado, ao partilhar o risco na tesouraria do fornecedor, fruto dele ser desleixado e do cliente ser desregrado, ESTÁ A ADIAR A MORTE DO FORNECEDOR E A PERPETUAR O COMPORTAMENTO DO CLIENTE.

É correcto?
NÃO

Se o fornecedor é desleixado, deve sofrer as consequências.
Se o cliente é injusto, deve sofrer pelas injustiças.

Com esta medida, estamos a subverter este mecanismo natural de relacionamento entre empresas.

"Aahh, mas o Estado também deve muito e leva as empresas à falência porque adiantaram o IVA ao próprio Estado"
2 erradas não fazem uma certa, aprendi com o Peter Schiff.

Cada problema merece uma solução que incida no objeto do problema.

Usar coisas que estão bem para tentar ultrapassar coisas que estão mal, correndo-se o risco de que a coisa boa se transforme em coisa má é:
Extorquir de um lado para dar ao outro. É uma fraude para com quem contribui. Não pode ser!

Se o Estado faz asneira na qualidade de cliente, tem que sofrer naturalmente:
Os fornecedores ou fogem ou carregam no preço

Se o Álvaro quer salvar as micro empresas com esta medida, ele que se chegue à frente com o dinheiro dele para pagar o IVA ao Estado e corra ele o risco de as empresas não lhe entregarem o dinheiro que ele esperaria receber.

Ele perguntou-vos se estão disponíveis para verem os vossos impostos subirem para compensar a quebra nas receitas do IVA?
A mim não me perguntou, e se me perguntasse, dizia logo que não poderia aceitar porque não tenho dinheiro para isso nem quero sequer assumir o risco.

Filipe Silva disse...


Totalmente de Acordo, o Estado deve pagar o que deve às empresas e não protelar o seu pagamento, senão tem verba, não compra.

Mas a realidade é uma este obriga as empresas a cobrar um imposto que este determina que os consumidores devem pagar.

Mas pelo que li, a medida não é bem o que parece, se no final do ano, ainda não tiver sido cobrado, a empresa é responsável por pagar o iva na mesma.

Era bom demais para ser verdade.

Mas alguém pergunta alguma coisa sobre impostos?

Já agora não é interessante que o ppl que por la passou agora desata a atacar o governo (não é que os defenda), mas quando la esteve contribuiu para o aumento do Estado?

É ridiculo mas é tudo socialista.

Vejo a Tv é tudo a fazer manifestações contra o aumento de impostos, contra cortes, etc...

Como é possível mas será que é tudo socialista na Europa?

A insanidade é total.

Espanha deixa me aparvalhado, com economistas de calibre do Huerta de Soto, e fazem só merda..



Pedro Miguel disse...

Ia mesmo acrescentar essa parte que o IVA tinha que ser entregue no final mesmo que o pagamento não tivesse acontecido. (aparentemente)

Anónimo disse...

Totalmente de acordo, Filipe Silva! Ainda falam dos franceses... anda tudo a olhar para o próprio umbigo e o mais não interessa nada.
Andam a brincar com o futuro, sobretudo com os mais novos. Nem quero ver no que isto vai dar. Provavelmente uma guerrazita que limpe uns bons milhões de almitas e pronto, fica tudo resolvido. A economia cresce, há trabalho para todos e muita riqueza para os mesmos do costume. :(

Tiago Mestre disse...

Filipe, tens razão sobre os impostos.
Já foi um devaneio meu.

Mas, e se houver uma cabecinha pensadora que desata a querer subir o IRS nos salários para compensar a quebra no IVA? Não é irreal

O Pedro acrescentou que esta medida só é válida até ao final de cada ano, e caso o cliente não tenha pago, o fornecedor tem que restituir o IVA ao Estado

Acham mesmo que o fornecedor, que não cobra, não gere bem a sua tesouraria, nem dinheiro tem para pagar o IVA mensal ou trimestralmente, irá conseguir liquidar TUDO de uma só vez no final do ano?
Época do ano em que tem que pagar subsídios de Natal e onde aparecem despesas extra? Nem que seja para abater lucros?

Nem pensem nisso. Se não acumulou reservas durante o ano, onde as irá ele buscar a 31 de Dezembro?

Andamos a brincar com o fogo