17 de outubro de 2012

Cruzes, credo, canhoto, mas o que é que se está a passar hoje?




Pedro Miguel, o exercício que te sugeri ontem para tentares fazer assume ainda mais importância com estas novas contas que o FMI lançou cá para fora hoje.

Não consigo "comer e calar" esta informação de que a economia irá cair ATÉ 5,3%, assim sem mais nem menos. Daqui a bocado, os 2% e 1 % de recessão que discutimos ontem até já passam a ser valores otimistas !!!

Vê o que podes fazer. Se for preciso ajuda para obter fontes e recolher informação, estou ao teu dispor.

Tiago Mestre

12 comentários:

Pedro Miguel disse...

Boas Tiago, não ando com muito tempo para o fazer.

O que te posso dizer é que na primeira notícias as contas foram feitas pelo "Público" e não pelo FMI.

(vou dizer números de cor, por isso é provável que me engane).

Com base nuns certos números de multiplicadores, que aparentemente pelo que li nem são para Portugal especificamente, um aumento de 1 euro de austeridade, leva a uma queda na economia de 90c a 1,70 euros. Isso é tanto válido para austeridade por aumento de receita quer diminuição da despesa. (tanto quanto sei)

O que o jornalista do público foi calcular o calcular a queda do PIB com base nesse suposto valor de multiplicador.

Mas, a informação é que o FMI se enganou num multiplicador que se aplicaria também ao PIB de 2012 e nesse caso, as conclusões do Público saem logo furadas.

Não encontrei a notícia no Público, por isso posso estar a ser incorrecto, mas foi o que transpareceu no Negócios.
Citas que a Católica prevê 2% de queda de PIB, o que já leva a que sejam muitas vozes a falar num défice maior.
Tendo em conta isto ainda dificulta a minha análise, pois certamente me faltam dados.

Quanto ao Citigroup, que aponta para uma recessão maior, relembro apenas que as previsões do Citigroup para 2012 (foram feitas em Abril de 2012) eram de uma recessão de 5,4%, dados que mostraram ser muito pessimistas.

Mais uma vez, como fiz a meio do comentário, vou-te dar razão, em que desta vez a minha previsão deve ser optimista e me deve faltar algum dado uma vez que alguns estudos que tenho visto são credíveis.
Contudo, o estudo do Público parece-me um mau trabalho jornalístico, as previsões do Citi não me merecem qualquer credibilidade e os famoso multiplicadores são tão vagos em valores e aparentemente nem são para Portugal de forma específica.

Como foi escrito por ti ontem, oxalá, o tempo me dê razão, não porque a quero, mas porque o país precisa.

Tiago Mestre disse...

Pedro, deveríamos mesmo pensar em qq coisa para termos uma boa aproximação do PIB

Estamos à merçê desta gente que lança cá pra fora estes números, e segundo referiste, as conclusões do Público baseiam-se tão só no multiplicador do FMI para 2012, que é muito diferente do de 2011.
Que tremendo disparate.

Pedro Miguel disse...

Há neste momento um pequeno ou grande problema quanto a isso.

As previsões nunca serão muito exactas, porque Portugal é uma pequena economia aberta que não pode fazer desvalorização monetária.
Estamos dependentes de dois factores muito fortes que nestes últimos dias tem mudado bastante.
Um deles é o crescimento externo, não podemos controlar os valores provisionais das exportações, que serão um grande motor de crescimento.
Segundo, neste momento, a descida do consumo vai reflectir-se também na descida de importações, pelo que o efeito de menor mercado interno não se vai impor por completo à produção nacional.
Mas um problema grande, e aqui temos em parte o tal multiplicador, a diminuição do dinheiro que vai do estado para a economia destrói quanto mercado?
Terá um efeito contrário à descida de referência do juro das OTs em mercado secundário, que vai permitir a médio prazo um refinanciamento das empresas. E qual é o multiplicador desse refinanciamento?
Qual dos dois vale mais e qual vai ser mais preponderante.

Estivemos bastantes dias com juros acima dos 8% nas OT a 10 anos, hoje, descemos abaixo dos 8%, já não estávamos lá desde o início do resgate.
Essa descida pode mudar tudo, mas é sustentável? Vai-se impor? Não sei!

Cenários, tudo cenários1

Filipe Silva disse...


Tiago vou aconselhar te uma coisa, algo que tenho vindo a fazer nos últimos 2meses, estudar a escola Austríaca a fundo, não ler um ou outro artigo do www.mises.com

Perceber a diferença entre o neoclássicos (a esmagadora maioria dos economistas, o FMI e companhia é neoclassico) e a escola austríaca.

Percebemos facilmente porque este nunca acertam uma previsão.

Estes partem da noção de equilibrio geral ou parcial, e fazem a sua análise toda de forma constante, a economia não é dinâmica (verdade que existem alguns neoclássicos que procuram resolver esse problema introduzindo dinâmica nas sua análises) é estatica.

A economia na opinião dos Austríacos é o estudo da acção humana, a forma como o empreendedor aproveita as oportunidades que existem no mercado.

Desde 1920 que Mises já demonstrou a impossibilidade teórica do Socialismo, é impossível fazer calculo económico pelo planeador central, a Social democracia não é mais nada do que um forma de socialismo, mas com alguma propriedade privada, mais soft, mas não consegue resolver o problema do calculo económico.

Convêm compreender que para a maioria dos economistas, a economia é uma ciência, tipo física, o que é um enorme erro, estes passam a ser objectivistas e dado que a economia é subjectivista, nomeadamente na teoria do valor, como deves saber o valor de determinado bem/serviço reside em nós.
Por isso que temos "gostos" diferentes, valorizamos os bens de forma distinta.
O empreendedor também faz o mesmo.

Continuar a acreditar que o planeamento central funciona é idiotice.





Vivendi disse...

Boa Filipe!

O único que conseguiu um planeamento central de sucesso foi Salazar e sem grande peso do Estado.


Tiago Mestre disse...

Eu percebo o que o Filipe quer dizer, mas não tenho a pretensão de planear ou centralizar.

Eu tenho é a necessidade de quantificar para poder prever com a menor margem de erro possível.

As interações dos seres humanos obedecem a padrões que não se alteram significativamente no tempo.
A evolução do PIB ao longo do século XX mostra que são precisos muitos anos para chegar ao pico do crescimento anual, e muitos anos para voltar a recuar a zero. Pelo meio houve anos anormais, é certo, até porque nos períodos de prosperidade há má alocação de dinheiro que depois deriva em realocação/recessão.
Mas há uma tendência que se consegue perceber.

Nos primórdios do Contas, eu próprio fiz um gráfico em que calculei as médias do crescimento em cada década, e tentei prever o crescimento do PIB em 2011-2020.
O critério foi básico:
Qual foi a queda média do PIB nas últimas 4 décadas? 2 pontos percentuais por década, exemplo.
Ora, se nós crescemos 0,7% ao ano na última década, então a atual seria de 0,7 - 2 = -1,3% ao ano em média.

O desafio lançado ao Pedro é no sentido de aperfeiçoar este tratamento estatístico, estudando as várias parcelas do PIB ao longo das últimas décadas, e tentando acrescentar indicadores mais recentes que podem influenciar a formação do PIB e que considere pertinentes.

Acham que isto tem a ver com planeamento centralizado?
O que eu quero é perceber a realidade e tentar prevê-la. Foi isto que Mises e Hayek tentaram fazer: compreender a natureza humana, respeitá-la na sua liberdade e perceber que governo deve existir para a melhor servir

O planeamento centralizado QUER forçar a realidade num determinado caminho só porque acha melhor e porque previu que deveria ser assim e não de outra maneira. É fraquinho

Pedro Miguel disse...

Olá Tiago,

fui ver a tua previsão e encontro um problema.
Já não me recordo bem destas teorias, mas o crescimento assenta em ciclos económicos, uns longos e outros curtos.

Seria mais fácil fazeres um gráfico do PIB e traçares uma tendência de crescimento.
Depois vês a forma como varia de ano para ano, vais reparar que apesar do PIB crescer sempre no longo prazo, uma vezes cresce menos ou decresce e outras vezes cresce mais, contudo, tem uma tendência.
Não deves supor que esta década o PIB vai decrescer, porque não será normal.
Aconteceu em 2011, vai acontecer em 2012 e 2013, mas o mais certo é esse ajustamento levar a uma forte recuperação nos anos seguintes.

Algumas considerações sobre as décadas da análise:
década 00 e 10 - vínhamos de uma crise de dívida bastante similar à actual, contudo, o país acabou por falir e pagou essa falência nas décadas seguintes
décadas 50 60 e 70 - as de maior crescimento, a economia procurou uma política de substituição de importações e posteriormente de promoção de exportações. É muito similar ao que o sistema produtivo está a enfrentar agora, com resultados importantes para a contenção do PIB.
década de oo deste século é a meu ver a falência do keynesianismo, com a ajuda da Europa que nos viciou em juros baixos e subsídios.

O início de 2013 espera-se que seja a cava (ponto mais baixo de um ciclo económico). Pelo menos as expectativas internacionais apontam para um crescimento a partir do segundo trimestre.
Se o défice for mantido baixo ou nulo, o mercado irá recuperar a economia e a dívida em % do PIB vai diminuir.

Já escrevi demais e disse pouco.

Tiago Mestre disse...

Pedro, precisamos então de indicadores que mostrem que estamos a bater no fundo do ciclo longo e que portanto estamos na iminência de iniciar uma tendência de crescimento.

Gostaria de saber se bater no fundo é aquilo que 2013 nos trará, porque diziam-nos em 2011 que no 2º semestre de 2012 começaria a recuperação.
No início de 2012 diziam-nos que afinal era lá para o 1º semestre de 2013.
Depois 2013 iria trazer-nos recessão de 1%, e agora a recessão pode ser ainda maior.

Se a recessão for de 2% ou mais em 2013, parece-me difícil haver crescimento em 2014, mas gostava que fossem as métricas a sugerirem-me isso ou não.

Vou pensar um pouco mais sobre o assunto

vazelios disse...

Bom oxalá o Pedro Miguel tenha razão.

A mim parece-me é que este ciclo recessivo vai ser maior. Vejam quanto já caiu o PIB grego...

É certo que iremos recuperar, nem que o nosso PIB desça para metade.

Filipe, aconselhas algum livro sobre a escola Austriaca? Encontram-se em livrarias ou tenho de ir online?

Abraço e obrigado

Pedro Miguel disse...

Vou tentar auxiliar com alguns dados durante o fim de semana.
Só tenho tido tempo para fazer umas leituras e ouvir alguns vídeos.

Esta análise económica representa de forma perfeita a forma como tenho visto alguns movimentos económicos nos últimos dias:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=585061

Devo dizer que Hollande foi bastante infeliz ontem.
Veio dizer o óbvio, a austeridade não é o único caminho, pode ser minimizada se houver consumo. E de quem é o consumo que ele falou? Do Norte da Europa, dos países superavitários.
Estupidamente, nem sequer esse consumo viria de França, Hollande sabe que o país dele estagnou e a dívida está galopante.
Quereria ajudar os países do Sul ou queria ajudar a França?
E quem convence os "poupados" que devem ajudar os "laxistas"?

O FMI veio também confirmar a história óbvia dos multiplicadores, é que nas palavras deles nem havia segundas interpretações, mas os jornalistas nacionais são de muito fraca formação.
Seria bom fazer um artigo diário sobre a contra informação jornalística do dia anterior.
Tinha uma sugestão de nome, mas nem sei se era melhor "Desmontar o Jornalista" ou "Montar o Jornalista" é que os nossos jornais económicos são ridículos.

Tiago Mestre disse...

Pedro, com todo o gosto, ofereço-te desde já o espaço do Contas para publicares a contra-informação jornalística que achares pertinente.

Farias um Guest Post, enviavas-me o texto e eu publicava em teu nome ou no nome que tu quisesses.
Fica aqui outro desafio para ti.

É que eu não consigo dar conta do recado todo.

Só de ler o Hollande fiquei logo enojado. Nem me lembrei de desmontar aquela aldrabice aqui no Contas

Sobre os multiplicadores do FMI, passou-se então como tinhas dito.

vazelios disse...

Ver Hollande falar depois de tudo o que prometeu e não concretizou - Só fez o contrario obviamente - e depois o Inseguro ir a voar ter com ele com grandes honras meteu pena.

E continam sem dizer como são "as outras" medidas de crescimento, e qual é a vida para além da austeridade.

Enfim, mais uma viagenzita do Inseguro paga por nós.

"Mais uma declaração daquelas à Europa", diz Pedro Lino da DifBroker.

Lindo