20 de outubro de 2012

FMI quando erra pede para sair e sugere aos outros que fiquem na sala com o monstro

Quando eu era pequenino, e sempre que ouvia gente importante a falar na televisão, acreditava que aquilo que nos transmitiam era a Verdade, ou a versão mais próxima disso, e sempre que diziam que iria acontecer isto ou aquilo, como não acreditar?

Essas pessoas mais velhas assemelhavam-se aos meus professores, e se o professor dizia que era daquela maneira, era assim e mais nada.

Entretanto crescemos, sentimos curiosidade em perceber o que se passa à nossa volta, e eis senão quando as velhas certezas dos doutos professores começam a não passar nos nossos testes. Começamos a perceber que afinal, tudo aquilo é mais forma do que substância, mais aparência do que essência.

Quando o FMI apareceu de mãos dadas com a UE e o BCE, prontos a ajudar a Grécia, Irlanda e depois Portugal, as suas previsões e respetivas soluções eram inquestionáveis. Caíram governos em vários países só para que se tentasse a sorte.
E mais uma vez, como acontecia no tempo da escola, "ensinaram-nos" que a sua receita, a da austeridade, traria no médio prazo resultados de tal forma espetaculares que qualquer país submetido a este remédio veria a luz do dia passados 2-3 anos.
Provavelmente foi isso que aconteceu com alguns deles que foram intervencionados, mas deveriam ter sido mais humildes, e reconhecer que cada caso é um caso.

Portugal e Grécia são um caso, digamos, único, e dificilmente repetível. Quiseram que fôssemos tão ricos como o resto da Europa, e julganod que é o dinheiro que nos torna ricos, não olharam e despesas, e pelo meio, aquilo que verdadeiramente enriquece uma nação, a sua capacidade produtiva, foi sendo atirada pelo esgoto abaixo. A população envelheceu, o Estado tomou cada vez mais conta dos portugueses, e a economia tornou-se dependente de dívida para gerir conta corrente.

No fim de tudo isto, com tantos erros empilhados em cima de tantos erros, aparece a troika a dizer que com uma pequena austeridade as coisas compõe-se num ápice. Começo a acreditar que há muito economista no planeta que pensa que há sempre uma solução para tudo, já que tudo são problemas passíveis de resolução. Eu não vou nessa. Há problemas, que podem ter solução, e há inevitabilidades, que só têm desfechos. É difícil definir a fronteira entre estes dois, daí a nossa interpretação da realidade ser suscetível de crenças e fenómenos de caráter mais subjetivo, como a esperança, por exemplo. Se conseguirmos atingir isto e isto, é provável que aconteça aquilo e aquilo e assim retomamos o caminho desejado. No entanto e sem se aperceberem, a realidade objetiva à sua volta desmorona-se que nem um castelo de cartas.

A troika, sendo esta composta por políticos, formou o mesmo vício de raciocínio que qualquer político encartado faz:
O remédio é curto, pouco doloroso, e os resultados a médio prazo são espetaculares. Era bom de mais para ser verdade, mas como foi tanta gente no mundo a profetizá-lo, era difícil refutá-lo na opinião pública.

O Remédio não é nem curto nem pouco doloroso, e os resultados são muito difíceis de quantificar, tanto em espécie como no horizonte temporal.
Foi isto que os políticos NÃO disseram, e como a realidade tende sempre a sobrepor-se às boas intenções do ser humano, em última análise é sempre este que paga pelos erros que comete.

Esta semana, Christine Lagarde veio assumir que afinal a austeridade poderá não ser o melhor caminho para o regresso ao crescimento económico. Um enorme equívoco, no mínimo.

E pelos vistos, já há mensagens subliminares do FMI para com a UE e o BCE de que estes deverão ter um "Official Sector Involvement"nos países mais endividados e sem perspetivas de crescimento, que traduzido para português não-eufemístico significa esses mesmo países declararem Bancarrota e o BCE, o EFSF e o ESM, os grandes credores "oficiais", levarem com a cacetada e aguentarem como puderem. Não percebo é como é que o FMI se exclui desta operação, quando é tão "oficial" como os outros grandes credores, mas enfim.
O texto de Mark Grant, no ZeroHedge, está muito interessante

Uups, estou a vislumbrar na minha mente Lagarde a dar razão a Jerónimo Martins e a condenar a raça de homens de que Passos Coelho é feito.

Grécia irá ficar sem dinheiro daqui a 2 ou 3 semanas, e desde Setembro, ou se calhar até Agosto, que aguardamos pelo relatório da troika. Tanto tempo?
Porque é que com a 5ª avaliação de Portugal não foi assim?
Será que a realidade grega é infinitamente mais complexa do que a portuguesa?
Não creio nisso. O relatório está atrasado... apenas na sua divulgação, porque alguém decidiu dessa maneira. Não será por bons motivos certamente.
E a que propósito aparecem estas declarações de Lagarde antes de se conhecer o relatório?
Como sabemos, são as conclusões do relatório da troika que sugerem se a tranche de 32 mil milhões de euros deve ser transferida ou não.

Nos bastidores o jogo deve estar pesado.

Como eu acreditava piamente na verdade que os meus professores me transmitiam.

Tiago Mestre

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