22 de outubro de 2012

Redução nas importações: um caso prático

Queria trazer aqui ao Contas um exemplo que implementei na minha empresa com o propósito de reduzir importações e beneficiar do know-how nacional.

Desde 2007 comecei a constatar que cada vez mais os equipamentos no ramo de hotelaria e indústria alimentar eram constituídos por componentes eletrónicos. A Placa eletrónica (Motherboard) e o CPU passavam a integrar imensos equipamentos que outrora recorriam ao sistema analógico.

Até aqui tudo bem, mas quando estes componentes se começaram a danificar, verificámos que o preço de substituição poderia facilmente atingir os 800, 100 ou até 1500€. Justificar junto dos clientes orçamentos destes em que por vezes um equipamento novo custava 3,4 ou 5 mil euros era complicado.

Por acaso, nessa altura contratei para o Porto um técnico de nacionalidade portuguesa que tinha trabalhado muitos anos na Alemanha na área da eletrónica. As suas funções, ao início, não iriam passar pela manutenção de componentes eletrónicos, mas em pouco tempo percebi que se a mensagem fosse bem passada junto dos clientes, poderia haver aqui negócio.

Para as placas eletrónicas mais caras, começámos a informar os clientes que iríamos mudar a nossa abordagem:
Em vez de as adquirir novas, iríamos tentar repará-las. E assim foi.

Tivemos que adquirir ferramentas, como osciloscópio, bancada de ensaio, posto de soldadura, enfim, aquilo que se exige para trabalhar neste domínio, num investimento a rondar os 2500€.

Falámos com alguns clientes que possuíam muitos equipamentos eletrónicos distribuídos pelo território nacional, no sentido de lhes assegurar manutenção dos mesmos sem recorrer sistematicamente à aquisição de placas novas.

Foi necessário abrir novos canais de comunicação com fornecedores (quase todos estrangeiros) que vendiam especificamente este ou aquele componente que se danificava, como Mosfet's, IGBT's, Integrados, e outros.

Desta forma, concluímos que na maior parte dos casos, a reparação raramente excedia os 70 a 80€ já com mão de obra incluída. Fizemos um preço de venda ao cliente a rondar os 150€, garantindo a amortização das ferramentas adquiridas e posterior lucro para a empresa.
É muito frequente danificar-se um componente que custa 1€, um Mosfet, por exemplo, numa placa eletrónica que nova custaria 800 a 1000€!

Mas há riscos:
Em termos de garantia, é muito diferente substituir uma placa eletrónica em vez de substituir o componente danificado. Contudo, pela diferença de preços entre substituir e reparar, mesmo assim é claramente compensador substituir o componente danificado.

Por ano são vários milhares de euros que se evita gastar na aquisição de placas novas ao estrangeiro, ficando a "festa" por umas dezenas de euros.

Evitar importações, dignificando os recursos humanos em Portugal é tão importante como exportar, digo eu!

E pelo facto de a estratégia ter dado resultado no Porto, estou a tentar montar o mesmo processo mas em Lisboa. Vou tentar diminuir ou até anular a constante logística que tenho montada na empresa de envio de placas danificadas para o Porto e de reenvio para Lisboa de placas reparadas.

Tiago Mestre

2 comentários:

Pedro Miguel disse...

Grande exemplo Tiago.

Conheço vários casos de pessoas que deixaram de encomendar da China porque tinham que fazer uma gestão muito grande ao nível de stocks.

Optaram por investir em maquinaria que substituía essa importação e o extra necessário compram em Portugal.
No final produzem mais e mesmo os fornecedores portugueses estão mais contentes.

O resultado é maior certeza na produção e nos prazos de entrega, menos stocks, menos importações e por aí fora...

Filipe Silva disse...


O que o Tiago exemplificou não é mais o que a Escola austríaca defende, vejamos.

A teoria austríaca diz nos que o empreendedor vai aproveitar novas oportunidades, apenas quando as consegue "ver", isto é, a informação existe mas o empreendedor é "ignorante" em relação a esta.
Só depois do Tiago "descobrir" a informação é que inovou no serviço que prestava.

O objectivo do Lucro, levou a que este inovasse e prestasse um novo serviço aos seus clientes, conseguindo que estes tivessem uma poupança, e o Tiago aumentasse o seu negócio.

Como o Tiago demonstra, no seu exemplo, este novo serviço vai fazer aumentar o emprego, dado que procura empregar uma pessoa na zona de Lisboa.

Conclusão a prossecução da satisfação das suas preferencias, as do Tiago, levou a um aumento da satisfação do seu cliente, bem como aumento do emprego e dos lucros do Tiago.

Isto tudo sem intervenção de terceira pessoa.

A redução das importações aqui é algo secundário, o Tiago quando "descobriu" a informação não foi com o intuito de "vou ajudar a reduzir as importações" mas sim com o intuito de satisfazer as necessidades do seu cliente e com isso aumentar os seus lucros.

A realidade é que o "egoísmo" individual leva a que o colectivo seja beneficiado, esta é a maravilha do mercado livre.

Se a actividade fosse regulada, por exemplo o estado obrigasse que tinha de ser componentes novos, o Tiago não prestaria um melhor serviço aos seus clientes, não teria maiores lucros, e não empregaria mais gente, e as importações aumentariam, conclusão a regulamentação cria desemprego e perda de riqueza quer individual quer a nível nacional.

Tiago sem saberes acabaste de demonstrar a teoria do empreendedor criativo da escola austríaca.

OS meus parabéns